O auxílio-farmácia ainda é pouco popular na política de benefícios dos empregadores brasileiros, mesmo diante de um cenário em que o gasto com medicamentos pesa, e muito, no bolso das famílias.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 33% dos gastos com saúde das famílias do país vão para a compra de medicamentos. Ou seja, para muitas pessoas, ter acesso a medicamentos básicos compromete 1/3 do orçamento mensal.
Mesmo assim, o auxílio-farmácia ainda não é visto como diferencial no mercado de trabalho, muitas vezes por falta de conhecimento sobre como funciona, por receio de custos elevados ou pela ideia de que esse tipo de benefício é complicado de implantar.
Ao longo deste artigo, será explicado exatamente o que é o auxílio-farmácia, quais são os modelos mais comuns usados pelas empresas e o que diz a legislação trabalhista sobre o tema. Veja como implementar esse benefício nas organizações:
- O que é o auxílio-farmácia?
- O que diz a legislação sobre o auxílio-farmácia?
- Qual é a importância do auxílio-farmácia?
- Como funciona o auxílio-farmácia nas empresas?
- Benefícios do auxílio-farmácia para empresas e colaboradores
- Como implementar o auxílio-farmácia empresarial?
Entenda tudo que envolve a implementação do auxílio-farmácia!
O que é o auxílio-farmácia?

O auxílio-farmácia é um benefício oferecido por algumas empresas aos funcionários para ajudar na compra de medicamentos, produtos de saúde e, em alguns casos, itens de bem-estar. Ele pode ser estruturado de diversas formas, como:
- Convênio com desconto em redes conveniadas (como Droga Raia, Pague Menos ou Drogasil);
- Reembolso de medicamentos mediante apresentação de nota fiscal e receita;
- Cartões ou plataformas de benefícios com uso exclusivo em farmácias.
O benefício pode ser custeado integralmente pela empresa ou descontado parcialmente do salário, dependendo da política de benefícios definida pela empresa. Além de aliviar o peso financeiro dos tratamentos contínuos, o principal objetivo do auxílio-farmácia é facilitar o acesso à saúde e promover o bem-estar dos trabalhadores.
O que diz a legislação sobre o auxílio-farmácia?
O auxílio‑farmácia não é obrigatório ou previsto por lei. A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) não estabelece nenhuma exigência de que empregadores ofereçam esse tipo de assistência, o que significa que sua concessão depende exclusivamente da política interna da empresa ou de acordos convencionais firmados entre empregadores e sindicatos.
Como não há previsão legal, a presença de um auxílio-farmácia não pode ser exigida por empregadores perante a Justiça do Trabalho, salvo se estiver prevista em instrumento coletivo ou contrato de trabalho.
A respeito de descontos em folha, a legislação permite que os empregadores efetuem descontos nos salários dos empregados apenas em alguns casos, como adiantamentos salariais, e benefícios previamente acordados em convenção ou acordo coletivo.
Já do ponto de vista tributário, o benefício pode compor a remuneração indireta. Dependendo da forma de concessão, pode ou não ter implicações fiscais para a empresa. Por isso, consultar um especialista em legislação trabalhista e tributária é recomendável.
Qual é a importância do auxílio-farmácia?
O cenário da saúde corporativa no Brasil revela uma contradição: embora o bem-estar dos colaboradores seja cada vez mais discutido, muitas empresas ainda deixam de investir em soluções que poderiam gerar impacto direto no dia a dia de quem trabalha.
Dados de uma pesquisa da consultoria Mercer Marsh Benefícios com 850 empresas de médio e grande porte revelou que o investimento médio em saúde por colaborador gira em torno de R$ 367,73, um aumento de 11% em relação a 2021. 49% dessas empresas planejam ampliar esse investimento nos próximos 12 meses.
Por outro lado, um estudo da Pipo Saúde divulgado na revista Exame envolvendo 432 empresas mostrou que 41% delas não oferecem nenhum benefício voltado ao bem-estar físico ou mental, especialmente nas pequenas e médias empresas, onde esse índice chega a 45%.
Os números indicam que, embora a percepção sobre a importância da saúde dos funcionários esteja aumentando, a implementação efetiva de iniciativas ainda é restrita, especialmente para modelos que vão além de planos de saúde tradicionais.
Em um mercado competitivo, onde talento e engajamento fazem toda a diferença, o auxílio-farmácia pode ser a ponte entre o discurso de valorização e a prática de um ambiente mais saudável e produtivo.
Como funciona o auxílio-farmácia nas empresas?
O funcionamento do auxílio-farmácia, ou plano farmácia empresarial, depende do modelo escolhido pela empresa (é importante avaliar custo-benefício, adesão dos colaboradores e facilidade de gestão para o RH). Na prática, existem três formas mais comuns de funcionamento desse auxílio no ambiente corporativo:
Descontos diretos em farmácias parceiras
Nesse modelo, a empresa firma convênios com redes de farmácias para os colaboradores comprarem medicamentos e outros produtos de saúde com desconto direto no balcão. Para ter acesso à vantagem, o trabalhador se identifica com CPF ou nome completo.
O valor com desconto pode ser pago integralmente pela empresa, mas, em muitos casos, é descontado depois na folha de pagamento do colaborador. É um modelo bastante prático, pois elimina a necessidade de reembolsos ou comprovação posterior das compras.
Reembolso de medicamentos via nota fiscal
O modelo de reembolso requer controle mais rígido por parte do RH. Nele, o funcionário adquire o medicamento com recursos próprios e, depois, apresenta a nota fiscal junto à receita médica para solicitar o ressarcimento.
A empresa analisa se o medicamento está na lista de produtos permitidos (o que geralmente exclui cosméticos ou produtos não essenciais), valida o valor e efetua o reembolso integral ou parcial dentro de um prazo.
Alguns empregadores limitam esse benefício por valor mensal ou por quantidade de solicitações por período. Em geral, o reembolso é feito no contracheque subsequente ou por transferência bancária.
Cartões ou plataformas de gestão do benefício
Algumas empresas adotam soluções mais modernas e automatizadas, utilizando cartões magnéticos (como bandeiras Elo ou Visa) ou plataformas digitais especializadas, como Pluxee, Caju ou Swile.
Nessa modalidade, o colaborador recebe um saldo mensal para ser usado exclusivamente em farmácias para comprar tanto medicamentos quanto outros produtos permitidos conforme a política interna. Os gastos são monitorados em tempo real, e a empresa pode definir o que pode ou não ser adquirido com o cartão.
Benefícios do auxílio-farmácia para empresas e colaboradores
O auxílio-farmácia é um daqueles benefícios que geram impacto positivo dos dois lados: tanto para quem trabalha na empresa quanto para quem a administra.
Para os colaboradores
O auxílio-farmácia traz mais segurança e reforçar a percepção de que a empresa se importa com o bem-estar do funcionário. Confira os benefícios:
- Redução de custos com medicamentos, principalmente em tratamentos contínuos;
- Maior facilidade para manter a saúde em dia, com acesso garantido a remédios;
- Menos necessidade de recorrer a empréstimos ou crédito para despesas com saúde;
- Sensação de valorização, já que o benefício demonstra preocupação com a qualidade de vida;
- Apoio em momentos delicados, como doenças familiares ou emergências pessoais.
Para as empresas
O auxílio-farmácia também é uma escolha inteligente para empresas que desejam unir saúde, valorização e estratégia:
- Redução do absenteísmo causado por doenças mal tratadas;
- Aumento da produtividade por colaboradores mais saudáveis;
- Melhoria no clima organizacional e no sentimento de pertencimento;
- Retenção de talentos e fortalecimento da imagem da empresa como empregadora;
- Diminuição de custos com afastamentos e planos de saúde, no médio e longo prazo.
Como implementar o auxílio-farmácia empresarial?

Como esse benefício não é obrigatório por lei, a adoção do auxílio-farmácia deve partir de uma compreensão mais ampla do papel que a saúde desempenha na produtividade e nos resultados do negócio. Thiago Liguori, médico e diretor de saúde da Pipo Saúde, resume bem esse desafio ao afirmar:
“Quando falamos em cultura de saúde para empresas, um dos grandes desafios é que desde o CEO até a alta diretoria haja um olhar unificado e um entendimento da importância que a saúde traz para a produtividade e o resultado da empresa.”
Para o auxílio-farmácia funcionar, ele precisa estar inserido em uma lógica organizacional onde o bem-estar dos colaboradores é prioridade. Veja todos os passos para implementar o auxílio‑farmácia:
- Realizar um diagnóstico da cultura de saúde na empresa, identificando o nível de valorização do bem‑estar e da saúde dos colaboradores;
- Alinhar a liderança, desde o CEO até os gestores intermediários, quanto à relevância da saúde para resultados e produtividade;
- Definir o modelo de auxílio‑farmácia mais adequado (descontos diretos, reembolso ou plataforma), considerando o perfil e o orçamento da empresa;
- Estabelecer parcerias com farmácias ou fornecedores de plataformas autorizadas;
- Criar e formalizar políticas internas, informando quem tem direito, limites de uso, produtos cobertos e possíveis descontos em folha;
- Orientar os colaboradores sobre como utilizar e quais regras se aplicam;
- Treinar o RH e as demais áreas envolvidas para gerir solicitações, validar reembolsos ou acompanhar o consumo por plataforma;
- Monitorar métricas, como número de usuários, frequência de uso, custos e impacto no absenteísmo, para ajustar o plano periodicamente.
Vale lembrar que uma boa prática é realizar uma análise de ROI (retorno sobre investimento) para entender o impacto do auxílio-farmácia na redução de absenteísmo e nos custos com saúde. Para isso, calculadoras de benefício e dashboards comparativos podem ajudar na escolha do melhor plano para cada perfil organizacional.
Outro ponto é o uso de uma ferramenta de gestão online de controle de ponto pode ser uma aliada nesse processo. É possível cruzar dados de jornada de trabalho e identificar padrões de absenteísmo para medir o impacto do auxílio-farmácia na rotina dos colaboradores.
Conclusão
Apesar de não ser obrigatório, o auxílio-farmácia pode gerar impactos reais e imediatos tanto para quem trabalha quanto para quem lidera. Mas, para isso acontecer de verdade, é preciso ir além da ideia de “dar um benefício a mais”.
O “segredo” está em enxergar o auxílio como parte de uma cultura de saúde mais ampla dentro da empresa, uma cultura que valoriza o bem-estar como estratégia e entende que saúde também é produtividade.
Se a liderança compra essa ideia e o RH tem as ferramentas certas para colocar em prática, o resultado aparece: menos faltas, mais engajamento e uma equipe que sente que está sendo cuidada de verdade.
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