Os números de falência corporativa no Brasil continuam altos e refletem os desafios enfrentados por empresas de todos os portes para manter suas operações sustentáveis em um ambiente econômico instável.
Em 2024, o país registrou 949 pedidos de falência — a maioria de micro e pequenas empresas (578 dos casos), segundo dados do Indicador de Falência e Recuperação Judicial da Serasa Experian. O setor de serviços liderou os pedidos de falência, com 416 casos, seguido de comércio (292) e indústria (238).
Apesar do número alto, a verdade é que os episódios de falência são causados por uma série de problemas organizacionais que podem ser evitados. Este guia explicará mais sobre o que é falência corporativa, suas principais causas e como prevenir esse cenário:
- O que é falência corporativa?
- Quais são as principais causas da falência de uma empresa?
- Casos reais de falência para aprender lições importantes
- Como a falência impacta os colaboradores?
- Como prevenir a falência e promover uma gestão empresarial mais saudável?
- Qual o papel do RH no caso de falência corporativa?

Continue lendo e saiba como evitar a falência na sua empresa!
O que é falência corporativa?

Falência corporativa ocorre quando uma empresa interrompe suas atividades por não conseguir honrar seus compromissos financeiros com fornecedores, bancos, funcionários e governo. Esse processo é, na prática, o reconhecimento judicial de que a empresa está economicamente inviável.
Porém, a falência não é simplesmente “fechar as portas”, é uma etapa jurídica com regras para organizar a liquidação de forma justa entre todos os envolvidos. No Brasil, o processo é regulamentado pela Lei nº 11.101, conhecida como Lei de Recuperação Judicial e Falências. Segundo ela, a falência pode ser requerida por:
- Um ou mais credores;
- O próprio devedor (empresa);
- O Ministério Público, em situações específicas previstas em lei.
Uma vez decretada a falência, um administrador judicial é nomeado pelo juiz para gerir o processo. Cabe a ele levantar o patrimônio da empresa, analisar os créditos e organizar o pagamento conforme a ordem legal.
Fases da falência
A falência corporativa segue uma sequência que pode ser resumida em três fases: pré-falimentar, falimentar e pós-falimentar.
Na fase pré-falimentar, o processo tem início com o pedido de falência feito por um credor não pago. O devedor é citado para se defender, podendo apresentar uma contestação, efetuar o depósito elisivo (pagamento da dívida com acréscimos) ou solicitar recuperação judicial. Em seguida, o juiz analisa se o devedor é empresário e se há insolvência, decidindo então se decreta ou não a falência.
Com a falência decretada, inicia-se a fase falimentar. Nessa etapa, o juiz nomeia um administrador judicial responsável por conduzir o processo. Os credores são convocados a apresentar seus créditos, e ocorre a averiguação das dívidas. Os bens da empresa são liquidados para gerar recursos que serão utilizados no pagamento dos credores.
Na fase pós-falimentar, ocorre o encerramento do processo, após a conclusão da liquidação e da distribuição dos recursos. O empresário falido pode, então, solicitar sua reabilitação para retomar a capacidade legal para atuar no mercado.
Falência x Insolvência x Recuperação judicial
A diferença entre falência, insolvência e recuperação judicial está tanto na natureza jurídica de cada processo quanto em seus objetivos e consequências práticas no contexto empresarial.
A insolvência é uma condição econômica que pode existir de forma silenciosa, sem necessariamente resultar em um processo judicial, mas que serve como fundamento para requerer a falência ou justificar a necessidade de reestruturação por meio da recuperação.
Quando ocorre a insolvência, a empresa simplesmente não consegue pagar suas dívidas no vencimento, mesmo que seu patrimônio, em tese, cubra essas obrigações.
A falência, por sua vez, é uma consequência jurídica da insolvência, que pode ser decretada pelo Judiciário após o reconhecimento da incapacidade de a empresa manter suas obrigações financeiras em dia. Ou seja, a insolvência é o estado de desequilíbrio financeiro, e a falência é o procedimento legal de liquidação do patrimônio do devedor.
Já a recuperação judicial é um instituto previsto na Lei nº 11.101/2005 e tem como objetivo evitar a falência e possibilitar a continuidade da atividade empresarial viável, ainda que momentaneamente em dificuldades financeiras.
Quais são as principais causas da falência de uma empresa?
Nem sempre uma empresa quebra por falta de clientes. Muitas vezes, o problema está em decisões erradas, falta de visão de futuro, má administração do dinheiro ou até fatores que fogem totalmente do controle do empresário. A falência é, geralmente, o ponto final de uma série de erros ou circunstâncias que se acumulam com o tempo.
Na lista abaixo, confira os motivos mais comuns que levam uma empresa a esse cenário e por que é tão importante agir antes que a crise vire um processo judicial.
Má gestão financeira e operacional
A má gestão compromete a sustentabilidade do negócio ao gerar desequilíbrios entre receita, custos e estrutura de capital. Empresas mal administradas não conseguem alinhar sua operação com os princípios de governança corporativa.
Falta de inovação e adaptação ao mercado
A incapacidade de se adaptar às mudanças do mercado e às transformações tecnológicas leva à perda de competitividade. Empresas que não acompanham as tendências setoriais tendem a oferecer produtos ou serviços defasados.
Problemas com fluxo de caixa e endividamento
O fluxo de caixa é o indicador mais sensível da saúde financeira de uma empresa. A falta de liquidez, associada ao alto grau de alavancagem financeira, compromete a capacidade de pagamento e aumenta o risco de inadimplência.
Crises externas
Pandemias, inflação, alterações legislativas e instabilidades econômicas impactam diretamente a capacidade de produção, a demanda do consumidor e os custos operacionais. A não adoção de práticas de gestão de risco e de planos de contingência expõe o negócio a rupturas inesperadas.
Casos reais de falência para aprender lições importantes
Nos últimos anos, o Brasil acompanhou casos emblemáticos de falência que escancararam falhas graves de gestão, incapacidade de adaptação ao mercado e consequências de decisões estratégicas equivocadas.
Mappin
Um dos exemplos mais conhecidos é o da Mappin, tradicional rede varejista paulista que marcou gerações com sua atuação no comércio de departamentos. Mesmo com forte apelo popular, a empresa entrou em falência em 1999, após sucessivos erros administrativos e uma expansão agressiva sem planejamento financeiro adequado.
A empresa não conseguiu acompanhar a modernização do varejo, acumulou dívidas e sofreu com má gestão de estoque e crédito. A lição deixada pelo Mappin é clara: reputação e tradição não sustentam um negócio se não houver controle financeiro, inovação e alinhamento com o comportamento de consumo.
Itapemirim
Um caso relevante e recente que ilustra as causas e consequências da falência no Brasil é o da Itapemirim, tradicional grupo do setor de transporte rodoviário e, mais recentemente, aéreo. Fundada em 1953, a Viação Itapemirim foi por décadas uma das maiores empresas de ônibus do país, conhecida por suas rotas interestaduais e estrutura de atendimento.
No entanto, ao longo dos anos, passou a enfrentar sérios problemas financeiros decorrentes de má gestão, acúmulo de dívidas trabalhistas e fiscais, e perda de competitividade diante de concorrentes mais eficientes.
O “golpe final” veio com a tentativa de diversificação por meio da ITA (Itapemirim Transportes Aéreos), empresa aérea lançada de forma precipitada em 2021, mesmo durante o processo de recuperação judicial.
Livraria Cultura
Mais recentemente, a falência da Livraria Cultura, decretada em 2023, reforçou outro tipo de alerta: o risco de não acompanhar as transformações digitais. Apesar de ser uma das maiores redes de livrarias do país, a Cultura perdeu espaço para players internacionais e acumulou dívidas expressivas com fornecedores, editoras e funcionários.
A resistência à mudança de modelo de negócios em um setor que passou por profundas transformações nos hábitos de consumo foi determinante para sua queda. Nesse caso, a lição está na necessidade de inovar continuamente e repensar a estrutura de negócios diante de novas tecnologias e formatos de consumo.
Como a falência impacta os colaboradores?

Toda empresa está exposta a riscos, e o que separa os negócios que prosperam dos que quebram é a capacidade de antecipar problemas com uma gestão baseada em dados. Algumas estratégias para evitar a falência e fortalecer a gestão do seu negócio:
- Acompanhar indicadores de desempenho, como margem de lucro, ticket médio, giro de estoque e fluxo de caixa;
- Usar softwares de gestão (ERP), automações financeiras e dashboards analíticos;
- Estimular o time a buscar melhorias contínuas, testar novas abordagens e acompanhar tendências do mercado;
- Usar análises de mercado, comportamento do consumidor e relatórios internos para definir decisões baseadas em dados;
- Antecipar cenários, estabelecer metas realistas e construir uma reserva para emergências.
Como prevenir a falência e promover uma gestão empresarial mais saudável?
Por ser resultado de falhas acumuladas na gestão financeira, operacional e estratégica da empresa, a melhor forma de evitar a falência é garantir a continuidade das atividades e a sustentabilidade do negócio. Algumas práticas de governança para a prevenção da falência e promoção de uma gestão mais saudável:
- Acompanhar métricas como margem de contribuição, EBITDA, giro de caixa, ponto de equilíbrio e retorno sobre investimento (ROI) permite identificar desvios e ajustar estratégias com agilidade;
- Elaborar orçamento empresarial com metas claras e revisões periódicas possibilita a alocação eficiente dos recursos e evita gastos desnecessários;
- Garantir liquidez para o pagamento das obrigações de curto prazo com projeções realistas de entrada e saída de recursos.
Qual o papel do RH no caso de falência corporativa?h2>
O setor de Recursos Humanos, em casos de falência corporativa, é responsável por coordenar os processos relacionados à gestão trabalhista: formalização dos desligamentos, cálculo de verbas rescisórias pela rescisão de contratos, condução de homologações e apoio aos gestores na comunicação interna.
Contudo, o papel do RH vai além da execução operacional. Se está integrado à gestão financeira e estratégica da empresa, ele não apenas fornece dados relevantes, mas também recebe dados importantes para tomada de decisão, como destaca Lara Avelino, analista de RH, psicóloga organizacional e recrutadora:
“Hoje, falamos de dados em geral, em todas as áreas. Nós do RH precisamos de números, precisamos de dados, precisamos de informação. Não dá para pensar em ser RH sem esses três. Então, esses três pontos são certamente essenciais. E o RH está se tornando cada vez mais estratégico.”
De um lado, o setor de RH entrega relatórios sobre custos com pessoal, produtividade, rotatividade, absenteísmo, clima organizacional e desempenho por área; de outro, absorve dados sobre metas, projeções orçamentárias, necessidades de reestruturação e planos de contingência, ajustando suas ações conforme a realidade do negócio.
Conclusão
Como visto, o processo de falência corporativa é provocado por inúmeros fatores que, geralmente, podem ser evitados com gestão estruturada, planejamento financeiro e capacidade de adaptação.
Porém, a prevenção não depende apenas da liderança ou do setor financeiro, ela exige o envolvimento de toda a organização, incluindo o RH. Um RH orientado por dados contribui para o controle de custos, o engajamento das equipes e a tomada de decisões.Quer conhecer outras estratégias para unir gestão de pessoas e resultados financeiros? Confira os guias e recomendações publicados no blog Pontotel.