Em um mercado de trabalho orientado por dados e resultados, é fácil esquecer que os processos seletivos ainda são, antes de tudo, encontros entre seres humanos. E é justamente nessa dimensão humana que o rapport se revela fundamental.
Embora muitos recrutadores já aplicam essa técnica de forma intuitiva, compreender os fundamentos e benefícios do rapport pode potencializar seus efeitos e transformá-lo em um instrumento para melhorar a qualidade das contratações.
Este artigo explica mais sobre o que é o rapport, por que ele é tão importante para os profissionais de RH e de que forma ele pode ser aplicado no recrutamento e seleção. Confira, na lista abaixo, o que será explicado mais adiante:
- O que é rapport?
- Qual a importância do rapport para o RH?
- Quais são os benefícios do rapport em processo de recrutamento e seleção?
- Como os recrutadores podem colocar a técnica de rapport em prática?

Descubra como aplicar o rapport para tornar os processos seletivos mais humanos e eficazes!
O que é rapport?
Rapport é o processo de criar uma conexão de confiança e empatia com outra pessoa antes de tentar influenciar, convencer ou conduzir uma conversa mais profunda. Ele funciona como uma preparação: antes de vender uma ideia ou conduzir uma negociação, por exemplo, é necessário que exista um “ambiente favorável”.
O termo deriva do francês rapporter, que significa “trazer de volta” ou “estabelecer uma ligação”. No contexto comunicacional, ele foi incorporado principalmente pelas ciências da psicologia, da neurociência comportamental e da programação neurolinguística (PNL), adquirindo o sentido de “criar conexão”.
Princípios fundamentais do rapport
Embora o rapport muitas vezes surja de forma natural entre pessoas que já possuem afinidades, em contextos profissionais ou estratégicos, é importante compreender que ele pode ser construído intencionalmente. Confira os princípios:
- O rapport depende da capacidade de perceber e se conectar emocionalmente com o outro (empatia). Isso significa escutar com atenção, demonstrar interesse verdadeiro e validar os sentimentos e percepções da pessoa;
- Estar presente na conversa, prestar atenção ao que está sendo dito (escuta ativa) e evitar interrupções são práticas para fortalecer o rapport;
- Para manter uma comunicação alinhada, é importante adaptar o próprio vocabulário, ritmo de fala e tom de voz ao estilo do interlocutor.
Uma observação útil e pouco comentada sobre o rapport é que ele não deve ser usado apenas para persuadir o outro. Quando encarado somente como uma técnica para “manipular” interações, ele se esvazia e perde sua força.
O rapport verdadeiro é aquele que parte de uma intenção real de compreender e se conectar. Essa intenção pode ser treinada e desenvolvida, mas precisa estar presente como base ética de qualquer comunicação.
Qual a importância do rapport para o RH?

O setor de RH lida essencialmente com pessoas — conflitos no trabalho, expectativas, talentos ou mudanças de comportamentos —, e por isso o rapport é pré-requisito para que os processos do setor fluam com mais transparência e aderência.
Um ambiente de confiança e empatia é o que garante que a comunicação entre profissionais e RH seja acolhedora e voltada para o desenvolvimento mútuo. Tuanny Honesko, coordenadora de marketing da Feedz, sintetiza bem essa ideia ao afirmar:
“Eu acredito que a escuta ativa representa 80% do trabalho, pois demonstra o quanto você conhece as pessoas e compreende suas necessidades. Consequentemente, quando você entende as pessoas, a empatia surge naturalmente, juntamente com a compreensão das razões por trás de suas ações. Além da escuta ativa, a comunicação sincera e honesta também é essencial.”
Se o profissional de RH consegue criar rapport com os colaboradores, há uma redução de barreiras emocionais e resistências, o que facilita tanto a escuta quanto o diálogo propositivo. Isso se torna especialmente importante em momentos delicados, como feedbacks, mediações de conflitos ou entrevistas de desligamento.
Quais são os benefícios do rapport em processo de recrutamento e seleção?
Mais do que gerar empatia momentânea, ele influencia a qualidade dos dados coletados, a fluidez da comunicação e, principalmente, a percepção que o candidato forma sobre a empresa. Entenda mais sobre os benefícios do rapport para o processo seletivo.
Reduz a ansiedade dos candidatos
Poucas pessoas se sentem completamente seguras ao participar de uma entrevista de emprego. O próprio cenário de julgamento, ainda que sutil, ativa o sistema de defesa emocional, interferindo na clareza das respostas e até na linguagem corporal.
Uma pesquisa da Monster divulgada na revista Forbes descobriu que 87% dos candidatos em seleções de trabalho dizem que começar um novo emprego é mais assustador do que ir ao dentista, segurar uma aranha ou saltar de paraquedas.
Quando o recrutador aplica rapport, ele aumenta as chances de criar um espaço de segurança que reduz o impacto desse nervosismo. O resultado é um candidato mais tranquilo, e uma entrevista mais produtiva e menos afetada por filtros emocionais.
Melhora a qualidade dos processos seletivos
Um processo seletivo bem estruturado pode falhar se a experiência do candidato for negligenciada. Segundo um levantamento da SHL, 42% dos candidatos recusam ofertas de emprego como resultado direto de uma experiência ruim durante a entrevista.
O rapport pode funcionar como um mecanismo de qualificação da jornada do candidato. Ao estabelecer uma conexão empática desde o início, o recrutador transforma a entrevista em um espaço de diálogo, e não de julgamento.
Essa mudança de atmosfera contribui para entrevistas mais produtivas e uma reputação mais positiva da empresa como marca empregadora. As consequências são elevação no índice de aceitação de ofertas e maior adesão dos talentos às etapas do processo.
Oferece mais precisão na avaliação de fit cultural
A compatibilidade entre o candidato e a cultura da empresa vai muito além do que pode ser avaliado por currículo. Ela se revela nas conversas espontâneas, nas entrelinhas das respostas e na forma como o candidato reage ao estilo de comunicação do recrutador. O rapport pode ajudar a criar o cenário ideal para que essas percepções sutis emerjam.
Em vez de respostas ensaiadas, o recrutador tem acesso a comportamentos mais naturais, o que permite uma leitura mais fiel do estilo de comunicação, dos valores e das atitudes do candidato.
Como os recrutadores podem colocar a técnica de rapport em prática?

Em um processo seletivo, não são apenas os profissionais de RH que devem dominar o rapport. Líderes que também participam de entrevistas, gestores de equipe e até analistas envolvidos na triagem de candidatos precisam entender como essa técnica funciona. A seguir, veja como aplicar o rapport de forma prática em entrevistas.
Técnica do espelhamento
A técnica do espelhamento consiste em ajustar o próprio comportamento para refletir características do outro, como postura, ritmo de fala e expressões. A ideia é criar, de forma inconsciente, uma sensação de familiaridade e acolhimento para o candidato.
O espelhamento bem aplicado não é imitação literal, é uma sincronização sutil do comportamento que sinaliza empatia e conexão. Confira algumas formas de aplicar o espelhamento naturalmente:
- Observe o ritmo de fala do candidato e ajuste o seu;
- Adote uma postura corporal semelhante à dele, com naturalidade;
- Repare nas expressões faciais e use gestos compatíveis;
- Utilize palavras e termos que o candidato usar com frequência, em um contexto coerente;
- Adapte o nível de formalidade da linguagem conforme o estilo de comunicação do entrevistado.
Se exagerado, o espelhamento pode parecer artificial ou manipulativo, quebrando exatamente a confiança que se busca construir. O segredo está na sutileza e na atenção contínua às reações do candidato.
Comunicação empática e escuta ativa
Nem sempre o que o candidato diz é o que ele realmente quer comunicar. Às vezes, o mais importante está nas pausas, nos desvios, no tom. É nesse ponto que a comunicação empática e a escuta ativa podem ser ferramentas indispensáveis. Confira dicas para fortalecer essa prática durante as entrevistas:
- Mantenha contato visual sem invadir o espaço do candidato;
- Não interrompa o candidato, mesmo que já saiba onde ele quer chegar;
- Reforce trechos da fala com expressões como “entendo”, “faz sentido” ou “isso é importante”;
- Faça perguntas complementares que demonstrem interesse genuíno, sem parecer inquisitivas;
- Ao final de uma resposta, repita com suas palavras o que foi dito para mostrar que compreendeu.
Lembre-se: escutar ativamente não significa apenas “estar em silêncio”. Trata-se de uma postura ativa, em que o recrutador demonstra, com pequenas intervenções e reações, que está emocional e intelectualmente presente na conversa.
Linguagem corporal alinhada
A linguagem corporal reforça — ou contradiz — o que o recrutador diz ao candidato. O alinhamento corporal transmite abertura, confiança e respeito. É um suporte silencioso para a interação verbal. Algumas dicas para alinhar a linguagem corporal:
- Mantenha a postura ereta e relaxada, sem cruzar braços ou pernas de forma defensiva;
- Posicione-se em um ângulo confortável para o candidato, evitando encarar diretamente de maneira invasiva;
- Utilize gestos suaves com as mãos para ilustrar ideias, sem exageros;
- Demonstre disponibilidade ao inclinar levemente o tronco quando o candidato estiver falando;
- Evite checar relógio, celular ou documentos enquanto o outro fala.
Um ponto que muitas vezes passa despercebido é que a linguagem corporal do recrutador serve de modelo comportamental. Ou seja, ao demonstrar calma, acolhimento e profissionalismo, ele favorece que o candidato regule melhor seu próprio comportamento.
Criação de um ambiente confortável
Antes mesmo da entrevista começar, o “clima” já diz muito: a forma como o recrutador se apresenta, como cumprimenta e como prepara o espaço influencia a disposição do candidato em se abrir.
Então, um ambiente de conforto não é apenas uma questão de estrutura física, porque depende da postura dos envolvidos. Um espaço acolhedor, seja presencial ou online, convida o outro a confiar. Confira algumas ações que ajudam a criar esse ambiente propício:
- Comece a conversa com uma fala informal e amigável para “quebrar o gelo”;
- Certifique-se de que o espaço físico ou virtual seja silencioso e livre de distrações;
- Dê ao candidato um momento para respirar e se ambientar antes de iniciar as perguntas;
- Explique como será a condução da entrevista e o que será avaliado;
- Esteja atento a sinais de tensão no candidato e ajuste o ritmo da entrevista se necessário.
Um aspecto muitas vezes negligenciado é que o ambiente de conforto depende de previsibilidade. Se o candidato sabe o que esperar da entrevista, ele tende a se sentir mais seguro, e isso colabora com a construção do rapport desde os primeiros minutos.
Conclusão
Fica evidente que o rapport é um detalhe muitas vezes despercebido no dia a dia do RH, mas que não pode ser deixado de lado durante as entrevistas e etapas de um processo seletivo.
Medidas como o uso intencional da escuta ativa, o espelhamento sutil, a atenção à linguagem corporal e a criação de um ambiente de confiança podem ser treinadas, aplicadas em equipe e ajustadas à cultura organizacional.
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