O termo “geração nem-nem” parece simples, mas por trás dele há milhões de histórias atravessadas por desigualdade, abandono e falta de perspectiva.
São jovens que não estudam nem trabalham e, por isso, estão à margem do que se entende como desenvolvimento social e econômico. No Brasil, essa parcela da população cresce em silêncio, mas seus efeitos já são sentidos no mercado de trabalho, na educação e nas políticas públicas.
Compreender quem são esses jovens, por que estão nessa condição e como o setor privado pode contribuir com soluções é fundamental para evitar que o país caminhe rumo a um colapso geracional silencioso.
Neste artigo, entenda o que é a geração nem-nem, quais são suas causas, impactos e como as empresas podem ser parte da mudança.
Os tópicos a seguir construirão o tema:
- O que é geração nem-nem?
- Qual o perfil da geração nem-nem no Brasil?
- Quais são as causas do surgimento da geração nem-nem?
- Os impactos da geração nem-nem para o futuro do trabalho
- Como as empresas podem ajudar a reverter esse cenário?

Boa leitura!
O que é geração nem-nem?
A chamada geração nem-nem, formada por jovens que não estudam nem trabalham, tornou-se um fenômeno global com implicações sérias para o desenvolvimento social e econômico.
A sigla é uma adaptação da expressão inglesa NEET (Not in Education, Employment or Training), usada para descrever pessoas, geralmente entre 15 e 29 anos, que estão fora do sistema educacional e também do mercado de trabalho.
Muito além de um rótulo, a geração nem-nem no Brasil revela um retrato de desigualdade, desalento e exclusão. Esses jovens se encontram em um limbo institucional: sem acesso a oportunidades de estudo ou emprego, enfrentam ciclos de vulnerabilidade que limitam seu futuro.
Origem e evolução do termo geração nem-nem (NEET)
O termo NEET surgiu no Reino Unido, na década de 1990, como uma categoria estatística para fins de políticas públicas.
Inicialmente restrito a jovens entre 16 e 18 anos, o conceito rapidamente se expandiu e passou a ser adotado por países da Europa, da América Latina e da Ásia para monitorar o nível de exclusão juvenil.
Com o tempo, o termo ganhou força como símbolo de uma geração esquecida pelas estruturas formais. No Brasil, o uso da expressão “geração nem-nem” se popularizou nos últimos 15 anos, principalmente em estudos e reportagens voltadas para políticas de juventude.
Qual o perfil da geração nem-nem no Brasil?

De acordo com dados mais recentes da PNAD Contínua (IBGE, 2023), cerca de 10,9 milhões de jovens brasileiros entre 15 e 29 anos fazem parte da geração nem-nem, o equivalente a mais de 20% da população jovem do país.
O número, embora alarmante, não revela por si só a complexidade do problema, que se aprofunda quando se analisa os recortes de gênero, raça , escolaridade e região.
As mulheres representam a maioria entre os jovens nem-nem no Brasil, respondendo por cerca de 62% do total.
Ao cruzar com o fator racial, o recorte fica ainda mais desigual: jovens negros são a maior parte do grupo. Geograficamente, o problema é mais intenso nas regiões Norte e Nordeste.
Quais são as causas do surgimento da geração nem-nem?

A geração nem-nem no Brasil não surgiu por acaso, ela é resultado direto de fatores estruturais que atravessam a educação, o mercado de trabalho e a realidade socioeconômica do país.
A desconexão entre juventude, escola e emprego é, antes de tudo, reflexo de desigualdades históricas que o sistema não corrigiu.
A seguir, foram destacados os principais vetores desse fenômeno.
Falta de acesso à educação de qualidade
Um dos principais pilares que sustentam a condição de “nem-nem” é a evasão escolar, muitas vezes forçada por dificuldades financeiras, violência ou responsabilidades familiares precoces.
Segundo levantamento do Ministério da Educação, o ensino médio é a etapa com maior taxa de evasão da educação básica no Brasil, o que compromete diretamente a formação e o futuro profissional de milhões de jovens.
E mesmo entre os que permanecem, a qualidade do ensino é frequentemente precária, marcada por currículos desatualizados, desinteresse e falta de conexão com o mundo do trabalho.
Essa combinação afasta o jovem da escola, gerando uma ruptura precoce com os espaços formais de aprendizagem e desenvolvimento.
Dificuldade de inserção no mercado de trabalho
Mesmo quando os jovens conseguem concluir o ensino básico, o primeiro emprego segue sendo um desafio gigantesco. A exigência de experiência prévia, somada à informalidade, à automação de vagas operacionais e à falta de políticas inclusivas, fecha portas para quem está tentando entrar no mercado.
É um paradoxo: precisa-se trabalhar para ter experiência, mas exige-se experiência para trabalhar.
Desigualdade social e vulnerabilidade econômica
A geração nem-nem no Brasil é atravessada por recortes de raça, classe e território. Jovens negros, periféricos e de regiões com menor desenvolvimento econômico estão mais expostos à pobreza, à fome e à insegurança.
Em muitos casos, precisam abandonar os estudos para ajudar nas despesas da casa e mesmo assim não conseguem se inserir no mercado por falta de oportunidades.
Os impactos da geração nem-nem para o futuro do trabalho
A existência de uma parcela crescente de jovens fora da escola e do mercado de trabalho não é apenas um drama social, é um gargalo estrutural para o desenvolvimento econômico do país.
A geração nem-nem compromete o presente e coloca o futuro em risco, pois representa um contingente sem preparo técnico, desmotivado e desconectado das transformações do mundo profissional.
Os impactos são múltiplos:
- Falta de mão de obra qualificada: a medida que a economia exige profissionais com competências específicas, digitais, comportamentais e técnicas, a ausência de formação básica e profissional dos jovens limita o potencial de inovação e encarece os processos de contratação e treinamento nas empresas.
- Defasagem cultural e tecnológica: jovens afastados do ambiente escolar e profissional perdem o contato com códigos sociais, linguagens técnicas e tecnologias essenciais para o trabalho contemporâneo. Isso cria um abismo entre gerações, dificultando a adaptação desses jovens aos ambientes organizacionais.
- Sobrecarga de trabalho para as gerações ativas: com menos jovens capacitados entrando no mercado, aumenta-se a pressão sobre os profissionais que já estão em atuação. Isso gera acúmulo de funções, envelhecimento da força de trabalho e maior risco de burnout entre os colaboradores mais experientes, impactando diretamente a produtividade e o clima organizacional.
Esses efeitos não são previsões futuras: já estão acontecendo. E a ausência de políticas de inclusão juvenil só agrava a lacuna entre o potencial produtivo do país e sua realidade.
Como as empresas podem ajudar a reverter esse cenário?

Embora a responsabilidade pela inclusão da juventude deva ser compartilhada entre Estado, escolas, famílias e sociedade civil, as empresas têm um papel insubstituível na reconstrução das pontes entre o jovem e o mundo do trabalho.
Mais do que contratar, é preciso formar, acolher e entender o contexto da geração nem-nem.
Veja como isso pode ser feito na prática.
Criar programas de estágio e jovem aprendiz
Programas estruturados de estágio e jovem aprendiz são portas de entrada essenciais para quem nunca teve contato com o mercado formal.
Eles não apenas oferecem a primeira experiência profissional, mas também ajudam o jovem a desenvolver rotinas, responsabilidades e noções básicas de convivência organizacional, algo que a escola, sozinha, não ensina.
Para que esses programas sejam de fato inclusivos, é importante que contem com acompanhamento pedagógico, plano de desenvolvimento individual e oportunidade real de efetivação.
Formar líderes que saibam lidar com a geração nem-nem
Liderar jovens em situação de vulnerabilidade exige mais do que capacidade técnica, exige empatia, escuta ativa e repertório social. Muitos líderes não foram preparados para lidar com perfis que chegam inseguros, sem referências ou com dificuldades de adaptação. Isso cria ruídos, frustrações e, muitas vezes, desistências precoces.
Segundo Mario Braile, especialista em gestão de serviços e consultor de capital humano da ETALENT, “Se o mercado aprender a trabalhar com diferentes gerações e utilizar os perfis de cada geração de acordo com a necessidade daquela empresa, terá um aproveitamento muito grande e uma complementaridade muito importante.”.
Investir em formação para lideranças, com foco em diversidade geracional, inclusão produtiva e desenvolvimento humano, é uma forma concreta de preparar a empresa para acolher esses talentos.
Rever benefícios para atender às necessidades da nova geração
Para a geração nem-nem, vale-refeição e vale-transporte são importantes, mas o que realmente gera vínculo pode ser o acesso a psicólogos, mentores, bolsas de estudo, auxílio-creche ou programas de mobilidade urbana.
Ouvir esses jovens, entender seus contextos e revisar o pacote de benefícios com foco em acessibilidade e permanência pode fazer toda a diferença.
Investir na educação corporativa dos colaboradores
Empresas que desejam transformar o cenário da geração nem-nem precisam criar trilhas de aprendizado contínuo, desde o onboarding até o desenvolvimento de competências técnicas e comportamentais.
Isso mostra que a organização acredita no crescimento interno e valoriza o potencial de cada colaborador.
Esses investimentos não precisam ser caros ou complexos. Muitas vezes, ações simples como workshops internos, rodas de conversa, cursos online e acompanhamento próximo já são capazes de mudar a percepção de pertencimento e abrir caminhos de ascensão.
Conclusão
Quando milhões de pessoas ficam à margem da escola e do trabalho, toda a sociedade perde: perde-se a inovação, a força produtiva e, acima de tudo, a chance de construir um futuro mais justo.
Ao longo deste texto, ficou claro que as causas da exclusão juvenil são profundas: passam pela evasão escolar, falta de acesso ao primeiro emprego, desigualdade social e ausência de políticas públicas eficazes.
Mas também se sabe que existe caminho para melhorar esse cenário, e as empresas têm papel central nessa virada. Ao abrir portas, formar lideranças preparadas, rever seus modelos de gestão e investir em educação contínua, o setor privado pode deixar de apenas lamentar o problema e começar a enfrentá-lo de forma concreta.
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