O local de trabalho exerce influência direta na saúde física e mental dos colaboradores, e há vários fatores que podem contribuir para as doenças ocupacionais surgirem. Nesse sentido, além do aspecto legal pautado nas NRs, outro motivo para promover saúde no trabalho fundamenta-se em ter funcionários saudáveis e, consequentemente, produtivos.
Considerando o período de 2012 a 2024, os dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho trazem que já foram mais de 8 milhões de notificações de acidentes de trabalho. Em se tratando de notificações de acidentes com morte, quase 32 mil.
A saúde no trabalho, porém, envolve vários aspectos, como a saúde mental. Sobre isso, vale destacar o fato de que o Brasil, em 10 anos, teve o maior número de afastamentos por conta de ansiedade e depressão, segundo dados do Ministério da Previdência Social.
Esses são só alguns dos pontos que mostram a importância de as empresas, de todos os segmentos e portes, buscarem, ativamente, formas de promover a saúde no trabalho. Para explicar essa problemática em detalhes, este texto abordará os tópicos a seguir:
- O que é saúde no trabalho e o que ela engloba?
- O que diz a legislação brasileira sobre saúde no trabalho?
- Principais riscos à saúde no ambiente corporativo
- Por que investir em saúde no trabalho é estratégico
- Como promover saúde no trabalho de forma prática e efetiva
- O papel do RH como ponte entre gestão, liderança e colaborador

Tenha uma ótima leitura!
O que é saúde no trabalho e o que ela engloba?
A saúde no trabalho é o conjunto de ações e condições que garantem o bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores, servindo para:
- Prevenir doenças ocupacionais, evitando impactos físicos e psicológicos;
- Reduzir riscos de acidentes e situações nocivas no ambiente de trabalho;
Promover qualidade de vida na rotina profissional, unindo segurança, equilíbrio e bem-estar.
Nesse sentido, trata-se de algo que vai além da ausência de doenças, pois também envolve a qualidade de vida na rotina profissional.
Como traz o estudo “Qualidade de vida no trabalho e saúde/doença”, entre os elementos que “explicitam a definição e a concretização da qualidade (de vida no) do trabalho”, o controle, que engloba a autonomia e o poder que os trabalhadores têm sobre os processos de trabalho, é um dos fatores centrais.
Esse controle, porém, também abrange “questões de saúde, segurança e suas relações com a organização do trabalho”, sendo considerado um dos “mais importantes que configuram ou determinam a qualidade de vida (no trabalho) das pessoas”.
Partindo disso, promover a saúde no trabalho engloba prevenção de acidentes, uso de EPIs, pausas adequadas e boas práticas ergonômicas. Envolve, ainda, ter uma atenção à saúde mental, com apoio emocional, combate ao assédio e estímulo à civilidade.
Saúde ocupacional, mental e bem-estar corporativo
A saúde ocupacional foca a prevenção de doenças e acidentes relacionados ao trabalho. Entre as ações práticas envolvidas aqui estão os exames médicos, o controle de riscos no ambiente e o uso de equipamentos de proteção.
Já a saúde mental diz respeito ao equilíbrio emocional e psicológico dentro do ambiente de trabalho. Envolve, portanto, questões como estresse, sobrecarga, ansiedade e relações interpessoais.
Enquanto isso, o bem-estar corporativo é um conceito mais amplo e busca promover qualidade de vida no trabalho. Ultrapassa os aspectos de saúde física ou mental e tem de estar presente em todos os setores da empresa. Incluem-se aqui os programas de incentivo à atividade física, à alimentação saudável e ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
O que diz a legislação brasileira sobre saúde no trabalho?
A legislação brasileira estabelece diversas normas para garantir a saúde no trabalho. Elas protegem os direitos dos trabalhadores e orientam as empresas quanto às suas responsabilidades.
Entre as principais Normas Regulamentadoras (NRs), destacam-se:
- NR-1 – Disposições gerais: define as disposições gerais sobre saúde e segurança do trabalho, estabelecendo diretrizes para a implementação das demais NRs e obrigando as empresas a cumprir as normas.
- NR-7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO): estabelece requisitos para o desenvolvimento do PCMSO nas organizações, com o objetivo de proteger e preservar a saúde dos empregados em relação aos riscos ocupacionais.
- NR-9 – Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR): estabelece requisitos para avaliação das exposições a agentes físicos, químicos e biológicos identificados no PGR.
- NR-17 – Ergonomia: define as “diretrizes e os requisitos que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores”. O propósito é “proporcionar conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente no trabalho”.
Ainda, é preciso citar as portarias que complementam essas regulamentações. Quando surgem, elas podem atualizar procedimentos, responsabilidades e exigências específicas. A exemplo disso está a MTP 423, de 7 de outubro de 2021, que atualizou a NR-17, e a Portaria SEPRT n. 6.735, de 10 de março de 2020, que modificou a NR-9.
O papel do PCMSO, PGR e ASO na saúde ocupacional
Thiago Liguori, médico e diretor de saúde da Pipo Saúde, diz que quando se fala em cultura de saúde para empresas, “um dos grandes desafios é que desde o CEO até a alta diretoria haja um olhar unificado e um entendimento da importância que a saúde traz para a produtividade e o resultado da empresa”.
Por isso, em prol da saúde ocupacional, há algumas ferramentas e programas importantes para garantir a integridade física e mental dos trabalhadores. Os principais instrumentos que as organizações usam para isso são:
- PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional): tem a função de monitorar e preservar a saúde dos trabalhadores por meio de exames médicos periódicos, admissionais e demissionais;
- PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos): é responsável por identificar, avaliar e controlar os riscos ambientais presentes no ambiente de trabalho;
- ASO (Atestado de Saúde Ocupacional): é um documento emitido após os exames médicos realizados dentro do PCMSO. Ele comprova que o trabalhador está apto para exercer suas funções, atestando sua condição de saúde e garantindo que a empresa cumpre as exigências legais relacionadas à saúde ocupacional.
Principais riscos à saúde no ambiente corporativo

Nas empresas, diversos fatores podem comprometer a saúde dos colaboradores. Quando isso acontece, eles têm seu bem-estar físico e mental prejudicados. O empregador, ciente de que isso pode ocorrer, tem de combater tais riscos.
Há, porém, o que o estudo “Intervenções em saúde do trabalhador – contexto, desafios e possibilidades de desenvolvimento” destaca: cada uma das metodologias de intervenção “tem características que as tornam mais eficientes para situações específicas”.
Ou seja, a “organização atual dos processos de trabalho resulta em constantes mudanças e aumento da complexidade dos sistemas” e, por conta disso, exige-se que haja “intervenções diferentes para a proteção da saúde e segurança dos trabalhadores”.
Por isso, “existem casos em que alguns métodos tradicionais de intervenção servirão para modificar aspectos pontuais”, porém, em outros casos, “serão necessárias intervenções sistêmicas, participativas, transformadoras e baseadas em teorias de aprendizagem”.
Com isso em mente, confira os principais riscos à saúde no trabalho:
Doenças ocupacionais
As doenças ocupacionais dizem respeito aos problemas de saúde que surgem diretamente em função das atividades laborais. Elas podem ser doenças físicas, como lesões musculares, problemas respiratórios, dermatites causadas por agentes químicos.
Também podem ser doenças emocionais. É o caso do estresse crônico e da síndrome de burnout, que afetam a saúde mental do trabalhador. O ponto principal de tudo isso é que, físicas ou mentais, essas doenças variam conforme os vários segmentos empresariais.
Fatores psicossociais
Os fatores psicossociais, diferentemente dos riscos anteriores, referem-se às condições emocionais e sociais que impactam o trabalhador. Tem-se, a partir disso, situações de assédio moral, pressão exagerada por resultados, cobranças excessivas e metas abusivas, que criam um ambiente tóxico.
Sobre o assédio moral, por exemplo, o estudo “O assédio moral nas organizações: as consequências dessa prática para a sociedade” ressalta que os resultados das primeiras pesquisas sobre esse assunto já mostravam o seguinte:
“[…] o assédio moral é um fenômeno destrutivo do ambiente de trabalho, e que seus impactos não só reduziam a produtividade e aumentava o absenteísmo, como também geravam danos psicológicos, alguns irreversíveis para a vida do trabalhador”
Riscos ergonômicos, químicos e ambientais no dia a dia
No dia a dia, os riscos ergonômicos, que também afetam a saúde no trabalho, surgem quando o colaborador adota posturas incorretas ou realiza movimentos repetitivos. As lesões musculares e os problemas na coluna, por exemplo, surgem em virtude disso.
Os riscos químicos, que podem causar alergias, intoxicações e doenças respiratórias, envolvem a exposição a substâncias tóxicas. Já os riscos ambientais estão mais atrelados às condições insalubres no local de trabalho: má ventilação, iluminação inadequada e ruídos excessivos.
Por que investir em saúde no trabalho é estratégico?
Há dois pontos norteadores de o porquê investir em saúde no trabalho: primeiro, todos os funcionários atuarão em um local saudável; segundo, é uma ação estratégica que manterá a empresa dentro da lei e lhe trará outros benefícios. Veja os detalhes desses aspectos a seguir.
Redução do absenteísmo e aumento da produtividade
É inegável que funcionários saudáveis têm menos faltas e conseguem se dedicar melhor às suas atividades diárias. Nesse sentido, a redução do absenteísmo significa menos interrupções nos processos, o que gera mais eficiência e resultados à empresa. Além disso, colaboradores com boa saúde física e mental são mais produtivos e focados.
Fortalecimento da marca empregadora e do clima organizacional
A saúde no trabalho também é importante porque, quando a empresa se preocupa com a saúde e o bem-estar do time, cria um ambiente mais agradável e valorizado. Com isso, ela fortalece sua imagem de marca empregadora. É importante citar, ainda, que um clima organizacional positivo aumenta o engajamento e a satisfação dos funcionários.
Redução de ações trabalhistas e passivos por negligência à saúde
Sempre que possível, as empresas têm de encontrar formas de evitar quaisquer processos trabalhistas. Cuidar da saúde no trabalho é justamente um dos jeitos de se fazer isso, afinal, a empresa estará cumprindo as normas de segurança e saúde ocupacional.
A negligência, por outro lado, quando denunciada pelo funcionário, gera ações na Justiça do Trabalho, resultando em multas e passivos financeiros. Por esse motivo, investir na prevenção protege a empresa de problemas jurídicos e, ao mesmo tempo, também reforça a cultura de responsabilidade e cuidado com seu quadro de pessoal.
Como promover saúde no trabalho de forma prática e efetiva

Há formas práticas de promover a saúde no trabalho, mas todas exigem ações planejadas e constantes. Elas, em todos os casos, envolvem tanto a empresa quanto os colaboradores. Confira os detalhes a seguir.
Avaliação de riscos e diagnóstico do clima
O primeiro passo que a empresa tem de tomar rumo à promoção de saúde no trabalho é identificar os riscos físicos, emocionais, psicossociais e ergonômicos que podem afetar os funcionários.
Como traz Tuanny Honesko, coordenadora de Marketing da Feedz, os “dados são importantes inclusive para a gestão da saúde mental do colaborador”. Nesse ponto, é importante que o RH, ao coletar dados relativos aos riscos ocupacionais, saiba como usá-los estrategicamente.
Em prol disso, nesse momento inicial, aplicar pesquisas de clima organizacional ajuda a entender o ambiente e a satisfação da equipe. Com essas informações, a empresa consegue planejar intervenções que atendam às necessidades dos colaboradores.
Ajustes ergonômicos, pausas ativas e ginástica laboral
Outra medida importante é adequar mobiliários, equipamentos e posições de trabalho para reduzir lesões e desconfortos físicos. A organização também deve incentivar pausas ativas e atividades como a ginástica laboral para combater o sedentarismo e o estresse.
Apoio psicológico e políticas contínuas de saúde mental
Oferecer suporte psicológico também é imprescindível para prevenir e tratar problemas como ansiedade e burnout. Considerando isso, adotar políticas contínuas, com acesso a profissionais e programas de saúde mental, é uma forma de a empresa criar um ambiente de cuidado e segurança emocional.
Ainda, é preciso considerar a importância da própria liderança, já que ela está no dia a dia com os colaboradores. Sobre isso, Ivone Granadeiro, coordenadora de Talent Acquisition da Totalpass, ressalta algo que fortalece a resiliência e o engajamento da equipe:
“A liderança tem um papel crucial em promover conversas abertas, oferecer suporte emocional e direcionar o time para buscar ajuda profissional, demonstrando compromisso com a saúde mental”
O papel do RH como ponte entre gestão, liderança e colaborador
Há um motivo simples que justifica a importância da equipe de recursos humanos como o elo entre a gestão, a liderança e o colaborador: ela traduz as estratégias da empresa em ações práticas que envolvem o time.
Além disso, o RH apoia a liderança com ferramentas, treinamentos e orientações para que ela gerencie suas equipes com eficiência. Tal capacitação é indispensável para os gestores saberem lidar com desafios, motivar funcionários e resolver conflitos.
Agora, no que diz respeito aos colaboradores, o RH é, partindo dessa problemática de saúde no trabalho, um canal para ouvir demandas e identificar problemas que, se não forem resolvidos, tornarão o quadro de funcionários doente.
Conclusão
Ao longo deste artigo, foi possível compreender que promover a saúde no trabalho é o que garantirá o bem-estar físico e mental dos colaboradores. Com isso, eles se tornarão mais produtivos e estarão longe das doenças ocupacionais.
A empresa também se beneficia, primeiramente porque estará dentro da lei, então não terá problemas trabalhistas. Além disso, evitará que seus colaboradores sejam menos produtivos, faltem frequentemente ou, pior ainda, até peçam demissão ao entenderem que o trabalho os adoeceu e que, por isso, precisam dar um basta.
É importante entender que promover saúde no trabalho não é uma tarefa simples, e, por isso, o papel do time de RH é decisivo. Afinal, é ele que implementará políticas eficazes e promoverá um ambiente de trabalho equilibrado, um local em que os funcionários cumprem com suas funções e mantêm sua saúde física e mental.
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