O intenso uso de tecnologias digitais e a rápida circulação de informações têm influenciado a forma como o cérebro processa, organiza e responde aos estímulos. O resultado disso é o chamado brain rot, um estado de desgaste mental prejudicial de inúmeras maneiras.
No dia a dia, incluindo aqui a rotina de trabalho de uma pessoa, tal desgaste acaba afetando a concentração, a produtividade e o bem-estar mental. Não à toa, o estudo “Fenômeno ‘brain rot’: implicações na saúde mental e os desafios para a psiquiatria” traz que o brain rot “representa um dos maiores desafios contemporâneos para a saúde mental”.
O motivo se dá, em especial, devido à “crescente digitalização das relações humanas e do consumo de informações”. O estudo cita, ainda, os principais problemas clínicos associados a esse fenômeno, como transtornos de ansiedade, insônia, depressão e isolamento social.
Voltando-se para o contexto profissional, o brain rot compromete a produtividade, o engajamento e a qualidade do serviço de um funcionário. A empresa, diante dessa problemática, tem de adotar medidas para proteger seu quadro de pessoal desse desgaste.
Para tratar os detalhes acerca disso, este texto abordará os tópicos abaixo:
- O que significa brain rot?
- Quais são as causas do brain rot?
- O que a internet está fazendo com seu cérebro (segundo a ciência)?
- Impactos do brain rot no ambiente de trabalho
- Como prevenir o brain rot com ações práticas na empresa?

Tenha uma boa leitura!
O que significa brain rot?
Brain rot é uma expressão que se refere ao desgaste mental que se dá quando uma pessoa consome, por muito tempo, conteúdos rápidos, superficiais e pouco estimulantes na internet. A expressão “cérebro podre” também se refere a esse desgaste.
Como cita Mário Perez, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein, esse desgaste é o “empobrecimento das funções mentais e cognitivas”. Ele deixa o cérebro “preguiçoso” e gera “dificuldade de concentração, fadiga mental e desatenção devido ao condicionamento excessivo e à exposição excessiva ao mundo digital através das telas”.
Qual é a origem do termo?
O termo brain rot não surgiu agora. Ele apareceu pela primeira vez em 1854, no livro “Walden”, de Henry David Thoreau. Na época, Thoreau usou a expressão para criticar a falta de valorização de ideias profundas, comparando esse empobrecimento intelectual ao apodrecimento das batatas na Inglaterra.
No entanto, nos últimos anos, o significado ganhou um novo contexto: ele passou a ser usado para falar do impacto negativo do consumo exagerado de conteúdo raso, sobretudo nas redes sociais.
Popularização do brain rot em redes sociais
A popularização do brain rot está ligada ao crescimento das redes sociais e do consumo rápido de conteúdos simples, como vídeos curtos e posts superficiais. Esses conteúdos, muitas vezes sem contexto ou profundidade, acabam “viciando” o cérebro porque ativam o sistema de recompensa, liberando dopamina e fazendo a pessoa querer sempre mais.
Além disso, os algoritmos das plataformas online são feitos para prender a atenção, mostrando o que gera mais cliques. Toda a problemática relativa a isso fez a palavra “brain rot” explodir em buscas e debates, especialmente em 2023 e 2024. Ela foi até eleita a palavra do ano pelo Dicionário Oxford.
Quais são as causas do brain rot?

O brain rot surge principalmente por hábitos que sobrecarregam o cérebro e o deixam sem “fôlego” para funcionar bem. A seguir, confira os principais motivos que levam a essa sensação de desgaste mental:
Consumo excessivo de conteúdo superficial
No atual momento, a internet está repleta de vídeos rápidos, memes e informações fragmentadas que não exigem esforço para ser compreendidos. Quando uma pessoa passa horas consumindo só esse tipo de conteúdo, o cérebro deixa de se exercitar para pensar criticamente, resolver problemas e criar algo novo.
Com o tempo, isso enfraquece a capacidade de concentração e criatividade, como se a mente fosse ficando preguiçosa. O escritor Umberto Eco traz algo interessante quando diz que o “excesso de informação provoca amnésia. Informação demais faz mal”. Ele completa: “Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais”.
Sobrecarga de informações
As redes sociais e os aplicativos bombardeiam o ser humano o tempo todo com inúmeras notícias, alertas, mensagens e atualizações. Essa enxurrada de dados vira uma pressão para o cérebro, que precisa filtrar o que é importante e o que não é. Esse esforço constante gera os efeitos do brain rot: estresse, cansaço mental e sensação de estar sempre “ligado”.
Sobre isso, a especialista em educação midiática Januária Cristina Alves diz que a “sobrecarga de informações está nos deixando incapazes de selecionar aquelas que são fundamentais para a nossa sobrevivência e, sobretudo, as que nos ajudam a tomar decisões importantes para a nossa vida individual e coletiva”.
Ela continua dizendo que, sob pressão, as pessoas são incapazes de selecionar o que as interessa e, sobretudo, discriminar o que sabem e o que desejam saber, aspecto que se trata de uma “competência decisiva para a tomada de decisões funcionais em todas as áreas da nossa vida, e também para a manutenção da nossa saúde mental”.
Privação de sono
O sono é o momento em que o cérebro processa informações, se reorganiza e se recupera do desgaste do dia. Quando uma pessoa dorme pouco ou mal, esse processo fica prejudicado, então ela passa a sentir mais fadiga mental e ter piora da memória. Também fica mais vulnerável a alterações de humor.
Segundo o estudo o “Efeito do vício em mídias sociais no funcionamento executivo entre jovens adultos: os papéis mediadores da perturbação emocional e da qualidade do sono”, quanto maior o nível de dependência das redes sociais, maior também a ocorrência de distúrbios emocionais, problemas de sono e dificuldades no funcionamento executivo.
Rotinas sem pausas
Trabalhar, estudar ou ficar conectado na internet o tempo todo, sem dar um tempo para a mente descansar, é um convite para o cansaço cerebral, causando o brain rot. As pausas, portanto, são necessárias justamente para o cérebro recarregar a energia e melhorar o desempenho; sem esses momentos, a capacidade de foco cai e a irritação aumenta.
O que a internet está fazendo com seu cérebro (segundo a ciência)?

Um dos pontos mais interessantes que o estudo “Reféns das redes sociais e da saúde mental” traz, sobretudo quando se trata do brain rot, é que a “neuroplasticidade no cérebro é moldada por estímulos ambientais e como eles são processados”.
Ele cita que o “impacto não está tanto na tecnologia que usamos, mas em como a usamos”. Seja para aprender, resolver problemas ou se expressar criativamente, ao fazer isso, a pessoa estimula “a neuroplasticidade positiva, que conecta e mantém os neurônios ativos”.
O problema surge, no entanto, no que ele chama de “uso passivo, repetitivo ou superficial”. É esse uso que “promove a neuroplasticidade negativa, enfraquecendo essas conexões”. Por isso, a internet, especialmente com o uso constante das redes sociais e o consumo rápido de conteúdos, está mudando negativamente a forma como o cérebro funciona.
Quando se passa muito tempo diante das telas, o cérebro começa a se adaptar a estímulos fáceis e imediatos, como vídeos curtos. Isso faz com que ele fique menos tolerante a tarefas que exigem concentração e esforço prolongado, porque está “acostumado” a recompensas rápidas, liberando dopamina (o neurotransmissor do prazer) a todo momento.
Impactos do brain rot no ambiente de trabalho
“O fenômeno brain rot pode afetar a saúde mental de várias formas, tanto no curto quanto no longo prazo”. É isso o que destaca a psicóloga Jéssica Mazocato Cardoso, do Hospital Universitário da Universidade Federal de São Carlos (HU-UFSCar).
Nesse sentido, no local de trabalho, o brain rot pode causar vários problemas que afetam tanto a produtividade quanto o clima do time. Confira quais são esses impactos:
Redução do foco e aumento de erros operacionais
Um dos impactos mais claros é a redução do foco: quando o cérebro está cansado e sobrecarregado, fica mais difícil manter a atenção nas tarefas, aumentando a chance de cometer erros operacionais, desde simples distrações até falhas graves.
Desmotivação
O brain rot também gera desmotivação nas empresas, afinal, a sensação constante de cansaço mental e a dificuldade em se concentrar fazem o funcionário perder o interesse pelo trabalho, e até mesmo perder o propósito. Ele passa a ficar menos engajado.
Como prevenir o brain rot com ações práticas na empresa?

Para ajudar na prevenção contra o brain rot na empresa, é preciso adotar ações práticas que cuidem da saúde mental e do equilíbrio dos colaboradores. Veja algumas formas de se fazer isso:
Incentivar os colaboradores a pausas e limites saudáveis
Para prevenir o brain rot, os colaboradores têm de adotar algumas medidas, tais como:
- Incorporar pausas no dia a dia: pequenos momentos de descanso mantêm a mente fresca e produtiva;
- Desafogar o cérebro das telas: afastar-se do computador por alguns minutos reduz a fadiga visual e mental;
- Filtrar o excesso de estímulos, pois isso ajuda a reorganizar as ideias e melhorar o foco.
Reduzir reuniões improdutivas
O excesso de reuniões longas e sem um propósito claro pode aumentar o desgaste mental dos colaboradores, prejudicando a concentração e diminuindo o tempo disponível para tarefas que exigem maior esforço cognitivo.
Para evitar que isso contribua para o brain rot, é preciso que as reuniões sejam bem planejadas, com objetivos claros e tempo limitado. Sempre que der, deve-se substituir esses encontros por mensagens objetivas ou uso de ferramentas colaborativas.
Promover programas de saúde emocional no RH
Investir em ações que cuidem da saúde mental traz resultados reais para toda a empresa, combatendo o brain rot. O RH, nesse cenário, pode promover palestras sobre controle do estresse, oferecer apoio psicológico ou parcerias com especialistas em saúde mental, além de organizar oficinas de mindfulness e técnicas de relaxamento.
Criar ambientes que favoreçam foco e bem-estar
O ambiente físico tem impacto no funcionamento do cérebro. Espaços com iluminação natural, menos barulho e áreas para descanso ou socialização dão ao cérebro a chance de se recuperar durante o trabalho, ajudando a combater o desgaste mental do brain rot.
Além disso, fomentar uma cultura que valorize o equilíbrio entre vida pessoal e profissional — oferecer flexibilidade de horários, por exemplo — fortalece o bem-estar emocional. Tudo isso ajuda a manter a mente mais clara e preparada para os desafios diários.
Conclusão
Ao longo deste artigo, foi possível perceber que o brain rot, ou simplesmente “cérebro podre”, é uma problemática em todo o mundo. Vale, portanto, refletir sobre o que diz Eduardo Leal Conceição, neuropsicólogo do Hospital São Lucas da PUCRS:
“Lembre-se: assim como o corpo precisa de uma dieta equilibrada, o cérebro também se beneficia de uma dieta de informações diversificadas e nutritivas”
As empresas, nesse contexto, precisam encontrar formas de auxiliar seu quadro de funcionários a combater o brain rot. Algumas delas são incentivar pausas regulares e promover ambientes de trabalho que favoreçam o foco.
Certamente, há desafios nesse combate. Contudo, em parceria com o time de RH, torna-se possível promover um equilíbrio entre o uso da tecnologia e o bem-estar cognitivo dos funcionários. Ao final, isso contribuirá para um local de trabalho produtivo e sustentável.
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