A polêmica sobre a baixa produtividade no home office não é nova. Desde que o trabalho remoto começou a se expandir no Brasil, há quem diga que o modelo “não rende o mesmo que no escritório”, embora as pesquisas mostrem resultados diferentes.
Uma pesquisa da Great Place To Work de 2025 acompanhou mais de 800 mil funcionários e verificou que, em empresas com comunicação clara, metas bem definidas e uma cultura de feedback (elementos centrais de uma boa gestão remota), a produtividade no home office se mantém estável ou melhora após a adoção do trabalho fora do escritório.
Para entender o que leva à baixa produtividade no home office e, mais importante, quais estratégias funcionam para reverter esse problema, confira o guia abaixo:
- O que significa baixa produtividade no home office?
- Como as empresas podem medir produtividade fora do escritório?
- Estratégias para combater a baixa produtividade no home office

Descubra como reverter a baixa produtividade!
O que significa baixa produtividade no home office?

Baixa produtividade no home office é a dificuldade de manter um nível de entrega de tarefas e resultados compatível com o esperado em um ambiente de trabalho remoto. Normalmente, alguns sinais se acumulam ao longo do tempo e começam a comprometer os prazos gerais da empresa. Entre os mais comuns, estão:
- Demora para concluir atividades simples;
- Dificuldade em manter foco durante reuniões virtuais;
- Procrastinação frequente;
- Sensação de sempre estar ocupado, mas não finalizar nenhuma demanda;
- Queda na qualidade das entregas;
- Aumento no número de erros por falta de atenção;
- Dificuldade de organizar o próprio tempo;
- Tendência a se distrair com tarefas domésticas ou pessoais durante o expediente.
Os sinais podem estar ligados ao formato remoto, mas não obrigatoriamente. O modelo home office traz desafios, mas não significa que ele gere automaticamente menos resultados.
Quais fatores mais afetam o desempenho remoto?
O desempenho no trabalho remoto é resultado da soma de dois aspectos: de um lado, estão os fatores pessoais de cada funcionário; do outro, os fatores que a própria empresa cria ou deixa de criar para apoiar o trabalho.
Do lado pessoal, os principais fatores que afetam o rendimento são:
- Falta de disciplina para manter horários fixos para começar e terminar o trabalho;
- Incapacidade de resistir a distrações como celular, TV ou tarefas domésticas;
- Má qualidade do ambiente de trabalho em casa;
- Desmotivação para encontrar razões internas ou externas para se manter produtivo;
- Não separar as horas de trabalho das horas de descanso.
Mesmo assim, quase sempre o peso maior está nos fatores ligados à empresa:
- Falta de clareza sobre objetivos e prioridades, sem adotar metodologias de gestão (OKRs, KPIs ou metas SMART) que orientem as entregas;
- Má comunicação entre equipes, com ausência de canais formais e padronizados, políticas de resposta e uso integrado de plataformas colaborativas;
- Falta de ferramentas para o trabalho remoto, como softwares de gestão de projetos, sistemas de armazenamento seguro em nuvem e infraestrutura de TI escalável;
- Cultura de acompanhamento com base em controle excessivo em vez de práticas de liderança baseadas em métricas de resultado e rituais de alinhamento.
Como as empresas podem medir produtividade fora do escritório?
Os empregadores podem medir produtividade dos funcionários em home office por meio de uma rotina de monitoramento baseada em: metas operacionais, indicadores de desempenho (KPIs) e ciclos de feedback contínuo.
A união desses princípios é a melhor forma de avaliar a performance de forma quantitativa e qualitativa, alinhando a execução operacional com os objetivos da organização.
O ambiente remoto apresenta particularidades que tornam o uso de indicadores ainda mais relevante. A distância física e a ausência de supervisão direta dificultam perceber sinais de queda de desempenho ou sobrecarga apenas pela observação.
Nesse sentido, os dados assumem um papel central para que líderes possam agir com base em evidências, e não em impressões subjetivas, como afirma Naomi Wagatsuma, analista de projetos na Pontotel:
“É importante acompanhar indicadores como horário de trabalho, atrasos, absenteísmo e tendência de horas extras, especialmente em um ambiente remoto, onde não se está trabalhando ao lado da pessoa.”
Esse cuidado, entretanto, precisa vir acompanhado de equilíbrio. Se por um lado o monitoramento é indispensável para garantir eficiência e alinhar as entregas com os objetivos da empresa, por outro, o excesso de controle pode gerar um efeito contrário.
É nesse ponto que surge o risco do microgerenciamento, uma prática em que gestores tentam acompanhar cada detalhe da rotina, transformando os indicadores em ferramentas de vigilância em vez de apoio.
A supervisão excessiva de atividades táticas e o foco em métricas irrelevantes tendem a causar sobrecarga cognitiva nos funcionários, enfraquecendo sua autonomia e comprometendo o engajamento das equipes.
O baixo engajamento no home office pode ser motivo de demissão?

Sim, é possível que o baixo engajamento no home office seja motivo de demissão, mas a forma como isso acontece depende da legislação trabalhista e da maneira como a empresa comprova o impacto desse comportamento no contrato de trabalho.
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) não traz o termo “engajamento” como fundamento jurídico direto, mas trata da obrigação de o empregado cumprir suas funções com assiduidade, diligência e atenção.
Quando esses parâmetros não são atendidos, a empresa tem respaldo legal para rescindir o contrato, seja por dispensa sem justa causa ou, em casos mais graves, por justa causa.
Nesse caso, a demissão sem justa causa é o caminho mais comum. É um direito do empregador, que pode encerrar o contrato de trabalho sem precisar justificar tecnicamente a decisão, desde que arque com as verbas rescisórias previstas: aviso-prévio, saldo de salário, férias proporcionais, 13º salário proporcional e saque do FGTS com multa de 40%.
Estratégias para combater a baixa produtividade no home office
Apesar da distância e das particularidades do trabalho remoto, é totalmente possível recuperar a produtividade de uma equipe com ações direcionadas:
Estabelecer metas e indicadores de desempenho
O trabalho de casa trouxe novas formas de organizar as rotinas, mas também revelou um ponto de risco: sem metas e métricas bem definidas, é fácil perder o rumo. Se não há parâmetros objetivos, tanto gestores quanto colaboradores ficam sem saber se o que está sendo entregue realmente contribui para os resultados da empresa.
A melhor forma de desenvolver metas nesse contexto é conectá-las aos objetivos estratégicos da organização, desdobrando-os em entregas específicas para cada área e colaborador. Metodologias como OKRs (Objectives and Key Results) e metas SMART (específicas, mensuráveis, atingíveis, relevantes e temporais) funcionam muito bem.
Se as metas estão bem estruturadas, os indicadores de desempenho entram como ferramenta para medir se o progresso está acontecendo no ritmo e na qualidade esperados. Alguns indicadores que podem ser aplicados são:
- Taxa de cumprimento de prazos, para medir a proporção de entregas realizadas no prazo acordado;
- Número de tarefas concluídas, para avaliar o volume de trabalho efetivamente entregue em determinado período;
- Taxa de retrabalho que indica a quantidade de entregas que precisaram ser refeitas por erros ou falhas de qualidade;
- Produtividade por hora trabalhada, para comparar o tempo investido com o resultado entregue;
- Nível de absenteísmo, que acompanha faltas e atrasos que afetam a regularidade da produção.
Com metas e indicadores relevantes, os líderes da empresa conseguem evitar julgamentos subjetivos e encontrar possíveis problemas de produtividade no modelo remoto.
Ferramentas digitais de colaboração e gestão de tarefas
A tecnologia também ajuda a medir produtividade no dia a dia, já que registra dados que podem ser analisados sem esforço adicional. Algumas aplicações práticas são:
- Trello, para medir quantas tarefas foram movidas de “Em andamento” para “Concluído” em determinado período;
- Asana e Monday, para gerar relatórios que mostram quais membros estão entregando no prazo e quais acumulam atrasos frequentes;
- Jira (TI), para acompanhar a velocidade de sprints, comparando histórias planejadas com as realmente entregues;
- Slack/Teams, para monitorar a interação entre equipes e a rapidez com que solicitações são respondidas.
Comunicação estruturada
Muitas vezes, quando se fala em baixa produtividade no home office, a primeira ideia é que o problema está na disciplina do funcionário. Mas, na prática, um dos fatores que mais impactam o desempenho remoto é a falta de comunicação estruturada dentro da empresa.
Algumas estratégias para desenvolver uma comunicação estruturada no home office:
- Estabelecer canais oficiais de contato, como Slack, Teams ou e-mails corporativos, para que informações importantes não se percam em conversas informais;
- Criar agendas fixas de reuniões de alinhamento, semanais ou quinzenais, de forma que toda a equipe saiba quando haverá espaço para discutir metas;
- Definir padrões de registro de informações em ferramentas de gestão de tarefas, garantindo que cada atividade tenha um responsável, prazo e status atualizado.
Programas de apoio à saúde mental e bem-estar
O cuidado com a saúde mental do colaborador pode ser visto como algo extra, mas a legislação brasileira já estabelece obrigações para as empresas até mesmo quando colaboradores trabalham em home office.
A partir da atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), por exemplo, as empresas devem identificar, avaliar e mitigar riscos psicossociais no ambiente de trabalho, incluindo o home office, desde 26 de maio de 2025.
Também se instituiu a Lei nº 14.831/2024, que criou o “Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental”, exigindo que as organizações adotem práticas de promoção da saúde mental, combate ao assédio e discriminação, e ofereçam recursos de apoio psicológico aos seus colaboradores.
Para combater a baixa produtividade no home office por meio de programas de apoio à saúde mental e bem-estar, algumas estratégias são:
- Disponibilizar convênios com psicólogos ou parcerias com serviços de terapia online para que o colaborador acesse atendimento confidencial;
- Prezar pelo direito à desconexão, isto é, assegurar que o trabalhador não seja exigido fora de seu horário estabelecido, salvo exceções previamente acordadas;
- Incentivar exercício físico regular com subsídios para academias ou parcerias com apps de fitness.
Conclusão
Fica claro que a baixa produtividade no home office não tem a ver, necessariamente, com o modelo remoto, e sim com a forma como é conduzido. As soluções passam por estabelecer metas, acompanhar indicadores, investir em comunicação e criar programas de apoio.
Mas de nada adianta adotar essas práticas se a empresa não estiver disposta a confiar em seus colaboradores e oferecer autonomia. O excesso de controle e o microgerenciamento podem anular qualquer esforço e comprometer o engajamento da equipe.
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O Time Pontotel é composto por especialistas em administração, recursos humanos, direito e tecnologia, com experiência em controle de ponto digital e legislação trabalhista. Nossos recursos vêm de fontes oficiais, como o site do Governo Federal e a CLT. Além disso, passam por uma revisão conjunta do departamento jurídico e de Recursos Humanos. Esse processo assegura dados precisos e atualizados, convertendo alterações legislativas em diretrizes claras para empresas que desejam eficiência e conformidade.



