O retorno de férias é o momento em que o colaborador volta às suas atividades profissionais após um período de descanso remunerado, considerado um dos principais direitos do trabalhador.
O modo como essa retomada será conduzida deve ser considerada pelos gestores e profissionais do setor de Recursos Humanos (RH) durante a gestão de férias dos funcionários. Caso contrário, a empresa pode enfrentar problemas.
Segundo o Tribunal Superior do Trabalho (TST), questões relacionadas à concessão de férias são frequentemente levantadas nas ações que chegam ao tribunal. Isso mostra que uma boa gestão de férias, incluindo o processo de retorno, é fundamental para garantir a segurança jurídica da empresa.
Além disso, a prática também garante a manutenção da produtividade e até do clima organizacional. Este artigo explicará como funciona o retorno de férias e o que fazer para garantir uma reintegração tranquila do trabalhador à equipe. Para isso, serão abordados os seguintes tópicos.
- O que diz a legislação sobre o retorno de férias?
- Principais desafios do retorno ao trabalho após as férias
- Como facilitar a adaptação do colaborador ao voltar das férias?
- Tecnologias para otimizar a gestão de férias e retornos
- Outras dúvidas sobre retorno de férias
O que diz a legislação sobre o retorno de férias?
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) regulamenta o direito às férias. Os artigos 129 e 130, por exemplo, estabelecem que todo trabalhador contratado em regime celetista tem direito a um período de férias a cada 12 meses de trabalho, sem prejuízo da remuneração.
Nos artigos subsequentes, a CLT ainda traz regras sobre o pagamento das férias, as responsabilidades da empresa, a concessão do benefício e até as punições em caso de descumprimento dos prazos. Embora elas sejam importantes para a gestão de férias, o texto não delimita as regras para retorno do funcionário ao trabalho.
No entanto, a jurisprudência entende que o empregado deve retornar ao trabalho na data estipulada pelo empregador no aviso de férias. Caso a data de retorno coincida com um dia de folga, como domingo ou feriado, o retorno será no próximo dia útil, salvo acordo em contrário.
Principais desafios do retorno ao trabalho após as férias
O retorno de férias nem sempre é tranquilo. Muitos profissionais enfrentam sintomas de um fenômeno conhecido como “ressaca pós-férias”, caracterizado pela dificuldade de se readaptar à rotina.
Esse processo ocorre quando a transição do descanso para as responsabilidades profissionais acontece de maneira abrupta, não de modo gradual. Entenda a seguir os desafios que surgem nesse cenário:
- Desmotivação e desânimo: após dias de descanso, a rotina de trabalho pode parecer esmagadora, gerando emoções negativas, especialmente para aqueles insatisfeitos com suas funções;
- Aumento dos níveis de estresse e ansiedade: o colaborador pode se sentir sobrecarregado com a pilha de tarefas pendentes, prazos e cobranças. A convivência diária com colegas com os quais o profissional tem conflitos mal resolvidos é outro fator adicional de estresse;
- Desconexão com o trabalho: para muitos, a falta de significado nas tarefas diárias e a desconexão com o propósito do trabalho também se tornam mais evidentes após as férias. Isso pode gerar um sentimento de vazio, especialmente quando o trabalho não proporciona satisfação ou alinhamento com os valores do colaborador;
- Queda da produtividade e engajamento: o resultado das demais dificuldades é a redução da produtividade do colaborador, que têm dificuldade para retomar o ritmo normal de trabalho.
Como facilitar a adaptação do colaborador ao voltar das férias?
Conforme explicado, a empresa enfrenta diversos desafios para garantir que o colaborador retome suas atividades de forma produtiva e engajada após as férias. Para superar essas dificuldades, ela pode adotar algumas estratégias que facilitam a adaptação do funcionário ao retornar ao trabalho.
Conheça algumas delas a seguir:
Planejamento prévio para minimizar o acúmulo de demandas
O primeiro passo para garantir um bom retorno de férias é planejar como o colaborador retomará suas atividades. Para isso, o gestor do departamento em que o funcionário está alocado deve identificar as tarefas pendentes mais urgentes e estabelecer uma ordem clara de execução.
Ou seja, ele precisa definir as prioridades que o colaborador deve seguir após seu retorno. Para evitar atrasos nas entregas, as tarefas adicionais podem ser redistribuídas entre os membros da equipe, sempre com atenção para não sobrecarregar os outros colaboradores.
Comunicação eficiente entre equipe e gestor
Outra estratégia importante é manter uma boa comunicação entre a equipe e o gestor. Afinal, todos são afetados pelo retorno de um colega de trabalho. Nesse cenário, a falta de alinhamento pode causar problemas, incluindo conflitos e aumento do nível de estresse.
Somente uma boa comunicação interna é capaz de superar esses desafios. Para isso, o gestor pode enviar um briefing ao funcionário que está retornando. O documento também deve explicar as novas metas ou demandas que surgiram durante sua ausência. Isso prepara o colaborador para o que o espera.
Além disso, é importante manter os canais de comunicação interna sempre abertos, facilitando a troca de informações, a reintegração do colaborador e a solução de possíveis dificuldades nesse processo.
Flexibilização nos primeiros dias para readaptação
Os primeiros dias após o retorno de férias são os mais difíceis. Nesse período, o colaborador está retomando seu ritmo normal de trabalho. Por isso, exigir que ele apresente a mesma produtividade e desempenho de antes desse período de descanso pode gerar frustração.
Em vez de esperar que ele retorne com sua capacidade máxima imediatamente, o ideal é que a empresa adote estratégias para facilitar sua adaptação e reintegração ao trabalho. Para isso, os gestores podem organizar reuniões de alinhamento, garantindo que o funcionário entenda as prioridades e as expectativas da equipe.
Outra dica importante é permitir que o colaborador revise relatórios ou projetos que ficaram pendentes durante sua ausência antes de assumir novas responsabilidades. Além disso, se possível, a empresa pode oferecer flexibilidade nos horários ou na carga de trabalho nos primeiros dias, minimizando o impacto da volta à rotina.
Utilizar ferramentas para monitorar a adaptação pós-férias
A empresa também pode utilizar algumas ferramentas para acompanhar como o colaborador está se adaptando após o retorno e fazer ajustes na sua abordagem, caso necessário. Para isso, ela pode utilizar recursos como ferramentas de gestão de tarefas, sistemas de ponto eletrônico e até pesquisas de clima organizacional.
Tecnologias para otimizar a gestão de férias e retornos
A tecnologia é uma aliada importante em todas as estratégias de adaptação do funcionário que está voltando do seu período de descanso. Afinal, existem várias ferramentas específicas que podem otimizar sua reintegração e outros aspectos da gestão de férias.
Conheça alguns desses recursos a seguir:
Ferramentas de comunicação interna
As ferramentas de comunicação interna ajudam a manter o alinhamento da equipe e ainda facilitam a reintegração do funcionário ao time. Esses recursos incluem tecnologias como e-mail corporativo, redes sociais internas e plataformas de mensagens instantâneas (como WhatsApp, Microsoft Teams e Slack).
Plataformas de gestão de produtividade
As plataformas de gestão de produtividade também são conhecidas como ferramentas de gestão de projetos. Afinal, elas permitem monitorar o progresso das tarefas, organizar demandas e alinhar as expectativas dos funcionários.
Por isso, elas são consideradas recursos importantes para melhorar a comunicação interna e otimizar o fluxo de trabalho, facilitando a reintegração do colaborador. Algumas das plataformas mais utilizadas com esse propósito são a Asana, o Trello e o Monday.com.
Softwares de controle de jornada e banco de horas
A gestão eficiente das férias também está diretamente ligada ao controle do banco de horas. Segundo Naomi Wagatsuma, analista de projetos na Pontotel, “acompanhar o banco de horas é crucial, pois permite entender em tempo real quem está disponível, quem está de férias ou de folga, e como está a capacidade do time.”.
Esse acompanhamento depende de um sistema de controle eficiente da jornada de trabalho, ou seja, de um software de ponto eletrônico. Além de reunir dados essenciais para a concessão de férias, esse sistema também pode ser utilizado para monitorar a adaptação do colaborador após o retorno.
“A centralização de todas as solicitações e registros em uma única plataforma facilita a comunicação entre gestores, colaboradores e RH, evitando que informações se percam e garantindo um melhor gerenciamento”, completa Naomi.
Outras dúvidas sobre retorno de férias
A volta ao trabalho após as férias pode gerar várias dúvidas entre os profissionais de RH, que precisam lidar com aspectos burocráticos da reintegração do colaborador.
Confira a seguir as respostas para os principais questionamentos sobre esse tema:
O que o trabalhador recebe quando volta das férias?
O trabalhador que retorna das férias recebe um salário proporcional aos dias trabalhados no mês de retorno. Esse valor é calculado com base no número de dias efetivamente trabalhados até o fechamento da folha de pagamento.
Isso ocorre porque o pagamento das férias é, na verdade, um adiantamento do salário pelos dias em que o colaborador esteve de descanso. Ou seja, o valor correspondente aos dias de férias já foi pago antecipadamente, antes do período de descanso.
Por isso, no holerite do mês de retorno, o trabalhador verá um valor menor, já que ele já recebeu parte do salário durante as férias. Vale lembrar que essa remuneração também serve de base para o cálculo de descontos obrigatórios.
O pagamento de férias é feito após o retorno?
Não. Segundo o artigo 145 da CLT, o pagamento das férias deve ser feito até 2 dias antes do colaborador iniciar seu período de descanso. Isso significa que o valor é adiantado, não pago após o retorno do funcionário.
A empresa pode demitir o funcionário na volta das férias?
Depende. A legislação trabalhista não prevê estabilidade para o empregado após o retorno de férias. Por isso, a princípio, a empresa pode demitir um funcionário após sua volta ao trabalho. Porém, algumas convenções e acordos coletivos podem incluir cláusulas que estabelecem estabilidade temporária.
Por isso, é importante que o RH verifique se existe alguma cláusula na convenção coletiva ou acordo sindical que ofereça essa proteção. Caso exista, a empresa deve respeitá-la.
Vale lembrar que, mesmo quando não é ilegal demitir um empregado após as férias, essa prática pode ser vista como uma ação de má-fé. Isso porque ela pode indicar que a empresa já tinha a intenção de dispensar o funcionário, mas resolveu esperar seu retorno para evitar o pagamento de verbas adicionais.
E essa situação pode ser utilizada pelo trabalhador para mover ações trabalhistas contra a empresa. Além disso, a prática pode o impactar clima organizacional, desmotivando outros colaboradores que temem perder seus empregos quando retornarem ao trabalho.
O que fazer se o colaborador faltou no dia previsto para o retorno das férias?
Quando um funcionário não comparece no dia previsto para retornar das férias, sua ausência deve ser registrada como falta injustificada. Isso significa que a empresa pode aplicar descontos no salário ou outras penalidades, conforme o regulamento interno e o que está previsto na CLT.
No entanto, antes de tomar qualquer medida disciplinar, é importante avaliar os motivos da falta. Se o colaborador justificar a ausência com algum motivo especificado no artigo 473 da CLT, o RH deve considerar essas circunstâncias antes de aplicar qualquer penalidade. Caso a justificativa seja aceita, a falta pode ser abonada.
Conclusão
O retorno de férias é o momento em que o trabalhador reassume suas atividades profissionais na empresa após o período de descanso remunerado a que tem direito, conforme previsto na CLT.
Esse processo requer que o colaborador se readapte à rotina e retome seu ritmo de trabalho, o que pode exigir a superação de desafios típicos da ressaca pós-férias, como desmotivação, aumento do estresse e desconexão com o trabalho.
O ideal é que a empresa adote estratégias para facilitar a reintegração do colaborador e ajudar a superar essas dificuldades. Medidas simples, como planejar as demandas do colaborador, ser flexível nos primeiros dias e realizar reuniões de alinhamento, podem ser muito eficazes.
Além disso, é importante utilizar tecnologias para monitorar o retorno do colaborador e otimizar a gestão das férias. Isso pode ser feito com o apoio de ferramentas de gestão de projetos, canais de comunicação interna e um bom controle de ponto. Essas estratégias garantem um retorno gradual e tranquilo do colaborador à empresa.
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