Como cuidar da saúde mental dos colaboradores
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Time Pontotel 18 de agosto de 2025 Gestão de Pessoas

Saúde mental no trabalho: como evitar afastamentos e construir ambientes mais saudáveis nas empresas

Saiba como promover saúde mental no trabalho, evitar afastamentos e construir ambientes saudáveis com ações práticas de RH e liderança.

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Falar sobre saúde mental no trabalho deixou de ser pauta de campanha pontual. Virou responsabilidade contínua, e, para muitas empresas, uma questão de sobrevivência.

Segundo dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, em 2023 o Brasil registrou mais de 470 mil afastamentos por transtornos mentais, como depressão, ansiedade e síndrome de burnout. 

O impacto não é apenas humano, é estratégico. Empresas que negligenciam o emocional das pessoas enfrentam turnover mais alto, produtividade menor e riscos jurídicos crescentes. 

Já aquelas que investem em cultura de escuta, modelos mais flexíveis e programas de apoio psicológico colhem retorno em clima organizacional, engajamento e resultados.

Este artigo explora por que o tema é urgente, quais os principais riscos emocionais no ambiente de trabalho e como o RH pode atuar de forma propositiva e preventiva.

Fique atento aos tópicos: 

Continue lendo para entender por que a saúde mental no ambiente de trabalho deve ser uma prioridade estratégica. 

Por que a saúde mental no trabalho é um tema urgente?

Homem dormindo sobre a mesa com livros e notebook, ilustrando exaustão e impactos da falta de equilíbrio na saúde mental no trabalho.







Homem dormindo sobre a mesa com livros e notebook, ilustrando exaustão e impactos da falta de equilíbrio na saúde mental no trabalho.

A urgência de cuidar da saúde mental no ambiente de trabalho torna-se evidente quando são observadas estatísticas recentes. 

No Brasil, dados das Nações Unidas indicam que os benefícios previdenciários por transtornos mentais cresceram 134% entre 2022 e 2024, saltando de 201 mil para 472 mil casos, o que mostra o avanço acelerado de doenças emocionais entre trabalhadores.

Esse aumento dramático nos afastamentos é reforçado pela constatação de que 14,3% dos trabalhadores relatam queda de desempenho, ou “presenteísmo”, devido a transtornos mentais como depressão e ansiedade, conforme estudo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine.

O que significa que muitos colaboradores permanecem ativos mesmo em condições emocionais fragilizadas, prejudicando qualidade e produtividade.

Outro sinal do impacto está nas perdas financeiras. Relatório da Deloitte em 2023 mostra que organizações (no Reino Unido) que investem em ações voltadas à saúde mental no trabalho conseguem reduzir os custos com absenteísmo e presenteísmo em até 1,5% da receita anual, o que pode representar milhões para empresas de grande porte. 

Esses elementos comprovam que a importância da saúde mental no trabalho não é apenas um imperativo moral, mas algo essencial para a sustentabilidade e a eficiência organizacional.

O que diz a NR-1 sobre saúde mental no trabalho?

A Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), revisada em 2020, passou a abordar expressamente a saúde mental no ambiente de trabalho como parte das obrigações das empresas. O novo texto inclui diretrizes de avaliação de riscos psicossociais e reforça que a proteção da saúde do trabalhador deve incluir tanto os aspectos físicos quanto os mentais.

A NR-1 determina que o empregador deve identificar, avaliar e controlar fatores que possam causar danos à saúde dos colaboradores, incluindo estresse ocupacional, assédio moral, jornadas excessivas e outras formas de pressão psicológica.

Além disso, o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), previsto na norma, exige que as empresas considerem riscos psicossociais em seus levantamentos periódicos, promovendo medidas preventivas e corretivas.

Benefícios de promover a saúde mental nas empresas

Ao criar um ambiente que reconhece as necessidades emocionais das pessoas, a organização fortalece sua base humana, reduz perdas e impulsiona a inovação.

A seguir, estão os principais benefícios de adotar práticas voltadas à saúde mental no ambiente corporativo:

  • Melhora do ambiente de trabalho: um ambiente emocionalmente seguro favorece a colaboração, o respeito mútuo e a confiança entre colegas e lideranças. Isso reduz conflitos, aumenta o senso de pertencimento e contribui para uma cultura de apoio coletivo.
  • Redução do absenteísmo
    Empresas que promovem o bem-estar psicológico registram menos afastamentos relacionados a transtornos como burnout, ansiedade e depressão. Isso significa menos interrupções nas entregas, menos sobrecarga entre colegas e menos custos com licenças médicas.
  • Aumento do desempenho: colaboradores que se sentem emocionalmente amparados demonstram maior clareza, criatividade e resiliência. Um estudo publicado pela University of Warwick revelou que profissionais felizes são até 12% mais produtivos que a média. 
  • Fortalecimento da cultura organizacional: investir em saúde mental fortalece a identidade da empresa e mostra, na prática, que o discurso de valorização das pessoas é real. Isso gera mais engajamento, fideliza talentos e atrai profissionais que compartilham os mesmos valores.

Esses benefícios criam um ciclo virtuoso: quanto mais saudável é o ambiente, mais as pessoas se engajam, e quanto mais engajadas, melhores os resultados da empresa como um todo.

Fatores que impactam negativamente a saúde mental no trabalho

A saúde mental no ambiente de trabalho é moldada diariamente por práticas de gestão, relações interpessoais e estruturas organizacionais. Quando esses elementos se tornam disfuncionais, o desgaste emocional deixa de ser pontual e passa a ser estrutural. 

Por isso, a seguir estão os fatores que afetam negativamente o bem-estar dos colaboradores

Sobrecarga de trabalho e jornadas longas

Jornadas extensas, sem pausas adequadas ou respeito pelos limites humanos, geram cansaço crônico, irritabilidade e comprometem a saúde física e mental dos colaboradores. 

O excesso não é sinônimo de produtividade; é, na verdade, o primeiro passo para o colapso.

Além do impacto imediato no bem-estar, esse tipo de sobrecarga tende a se perpetuar como um padrão tóxico dentro da empresa. No longo prazo, isso leva à queda na qualidade das entregas, ao aumento dos erros e a maior rotatividade, criando um ciclo nocivo difícil de interromper.

Falta de reconhecimento e feedback

Sem feedback, profissionais que entregam resultados, mas não recebem retorno positivo sentem que seu esforço é irrelevante. Essa invisibilidade gera frustração e desconexão com o propósito do trabalho, afetando diretamente o engajamento e a autoestima.

O mesmo vale para a falta de feedback construtivo. Sem orientação clara sobre o que pode ser melhorado, o colaborador tende a operar no escuro, com insegurança, medo de errar e dúvidas sobre seu desempenho. 

Ambiente de trabalho inseguro ou hostil

A hostilidade cotidiana, que pode se manifestar de formas sutis, como por meio de fofocas, exclusão ou ironias constantes, corrói a confiança e desestabiliza emocionalmente os profissionais. É o oposto de um espaço psicologicamente seguro.

Em empresas que toleram comportamentos abusivos ou negligenciam a mediação de conflitos, o impacto vai além do indivíduo: o time inteiro se retrai. Ninguém cresce num ambiente onde errar é perigoso e se calar é a única forma de proteção. 

No longo prazo, isso compromete a cultura, destrói o senso de pertencimento e favorece o adoecimento silencioso.

Falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional

Quando o equilíbrio entre vida pessoal e profissional se apaga, o colaborador perde a referência de descanso. A constante sensação de dívida com tarefas pendentes impede a regeneração emocional e afeta até o sono e a alimentação.

Além disso, a ausência de tempo para atividades pessoais enfraquece vínculos afetivos, hobbies e momentos de prazer, indispensáveis para o equilíbrio psicológico. 

Liderança tóxica e gestão disfuncional

Gestores que operam pela imposição, que microgerenciam, gritam ou desmotivam por meio de comparações constantes, criam ambientes baseados no medo e na autoproteção.

Lideranças disfuncionais geram paralisia criativa, sabotam a autonomia e tornam o ambiente tóxico. Em vez de ser fonte de apoio, o líder se torna fonte de ameaça. O resultado é um time inseguro, em silêncio, evitando riscos e trabalhando no modo de sobrevivência. 

Sinais de que a saúde mental dos colaboradores está em risco

Muitos colaboradores continuam cumprindo suas tarefas, mesmo emocionalmente abalados, o que dificulta a identificação precoce. No entanto, alguns comportamentos e padrões de atuação podem acender o alerta para lideranças e profissionais de RH atentos. 

Veja os principais:

1. Queda de desempenho: quando um colaborador que costumava apresentar bons resultados passa a entregar abaixo do esperado, com mais erros, atrasos e falta de foco, é possível que algo emocional esteja interferindo em sua produtividade. 

2. Afastamentos recorrentes: licenças frequentes, principalmente aquelas relacionadas a sintomas inespecíficos como dores, cansaço extremo ou crises de ansiedade, podem ser indicativos de que a saúde mental está comprometida.

3. Desmotivação: a falta de energia, de envolvimento com os projetos e de interesse pelas atividades diárias é um sinal claro de que o colaborador perdeu o senso de propósito. A desmotivação, quando crônica, pode evoluir para quadros de depressão ou burnout, especialmente em ambientes onde não há espaço para diálogo emocional.

4. Mudanças bruscas de humor: oscilações frequentes entre irritação, apatia, euforia ou retraimento podem indicar um estado de instabilidade emocional. Essas alterações, quando recorrentes, merecem atenção especial, principalmente se surgirem de forma repentina ou sem causa aparente no dia a dia profissional.

Observar esses sinais com sensibilidade é uma responsabilidade compartilhada. 

A empresa pode ser responsabilizada por problemas de saúde mental?

Sim. Empresas que ignoram sinais de sofrimento emocional ou expõem seus colaboradores a condições de trabalho abusivas, insalubres ou humilhantes podem, sim, ser responsabilizadas judicialmente por danos à saúde mental dos funcionários. 

Essa responsabilidade tem respaldo na Constituição Federal, na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e em decisões recentes dos tribunais.

Segundo o artigo 7º, inciso XXII, da Constituição, é dever do empregador garantir um ambiente de trabalho seguro e saudável. Já o artigo 157 da CLT reforça que cabe à empresa adotar medidas para prevenir riscos à integridade física e mental dos empregados. 

Se for comprovado que a organização falhou nesse dever, por omissão, negligência ou tolerância a práticas abusivas, ela pode ser condenada ao pagamento de indenizações por dano moral, pensões vitalícias ou despesas médicas.

Como o RH pode promover a saúde mental no trabalho

Profissional escrevendo em prancheta durante conversa, representando apoio psicológico e promoção da saúde mental no trabalho por meio de escuta e acompanhamento.

Mais do que executar processos, o RH é responsável por sustentar políticas, práticas e comportamentos que promovam segurança psicológica, escuta ativa e equilíbrio na rotina profissional. 

As ações a seguir são exemplos concretos de como o RH pode fortalecer a saúde mental no ambiente de trabalho.

Fornecer feedbacks aos colaboradores

Quando o colaborador sabe como está performando e sente que há espaço para crescer, sua ansiedade é reduzida, sua confiança aumenta e ele enxerga sentido nas suas entregas. O feedback alinha expectativas e previne frustrações silenciosas.

Por outro lado, a ausência de retorno gera insegurança e sensação de invisibilidade. Logo, o RH deve capacitar as lideranças a adotarem uma cultura de feedback contínuo, e não apenas utilizar o recurso em ciclos formais de avaliação. 

Proporcionar oportunidades de crescimento

Colaboradores que sentem que estão estagnados, sem espaço para aprender ou crescer, perdem o engajamento e passam a operar apenas por obrigação. 

O RH pode atuar de forma preventiva ao estruturar trilhas de desenvolvimento, planos de carreira transparentes e programas de mobilidade interna. 

O investimento em capacitação contínua, aliado à escuta sobre as ambições individuais, fortalece o sentimento de propósito e reduz o risco de adoecimento psíquico relacionado à estagnação profissional.

Oferecer convênios com psicólogos e plataformas de apoio emocional

O RH pode estabelecer parcerias com clínicas, psicólogos credenciados e plataformas online que ofereçam sessões com psicólogos, terapeutas ou recursos de apoio emocional. 

Segundo Ivone Granadeiro, coordenadora de Talent Acquisition da Totalpass, “Promover a conscientização e a educação sobre autocuidado, oferecendo palestras, workshops e materiais sobre o tema, é fundamental para quebrar o preconceito e incentivar o cuidado com a saúde mental.”.

Ao normalizar o cuidado com a saúde mental, e não tratá-lo como tabu, a empresa contribui para a redução do estigma. 

Criar espaços seguros de escuta e troca

Criar espaços formais e informais para escuta, como rodas de conversa, comitês de bem-estar, e pesquisas de clima seguidas de devolutivas reais, faz com que os colaboradores percebam que sua experiência é levada em consideração. 

O RH precisa garantir que esses espaços não sejam apenas simbólicos, mas ativos e eficazes.

O espaço de escuta deve estar conectado a canais de acolhimento, protocolos de mediação e medidas corretivas claras. 

Implementar modelos de jornada flexível

A adoção de modelos de jornada mais flexíveis, com possibilidade de home office, horários adaptáveis ou banco de horas humanizado, contribui diretamente para a preservação da saúde emocional, especialmente em momentos de sobrecarga familiar ou crises individuais.

O papel do RH é mediar esses modelos com equilíbrio, considerando tanto as necessidades da operação quanto as possibilidades de personalização para cada colaborador.

Conclusão 

Cuidar da saúde mental no trabalho não é mais uma vantagem competitiva, é uma necessidade estrutural. Empresas que ignoram os sinais de sofrimento psíquico correm o risco de enfrentar afastamentos frequentes, rotatividade elevada, produtividade em queda e, principalmente, perda silenciosa de talentos que poderiam florescer em um ambiente mais acolhedor.

A saúde mental no ambiente de trabalho é impactada por fatores como liderança disfuncional, sobrecarga, falta de escuta e ausência de reconhecimento. Mas também foi visto que é possível agir: o RH tem ferramentas reais para transformar esse cenário, por meio de políticas claras, canais de escuta, desenvolvimento humano e práticas de gestão mais humanas.

Empresas que desejam crescer com consistência precisam garantir que suas pessoas tenham espaço para existir com dignidade, e não apenas para produzir. 

Continue acompanhando o blog Pontotel para ficar atualizado sobre as normas legais e éticas de saúde mental e gestão. 

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